sábado, 6 de dezembro de 2014

NOVOS TEMPOS DA VIDA


"Quatro anos!... O tempo fugiu do meu controlo..."
Hoje vim aqui...
E vim aqui para te dizer que a minha vida, afinal... continuou.
Naquele dia em que me deixaste tudo parecia estar tão... fusco que eu mesmo "me perdi", meses mais tarde. Depois vieram os tempos da vida e com eles fui acabando por escrever novos capítulos nessa mesma vida em que me deixaste.
Veio o tempo de novos desafios e eu encarei cada um deles de frente, e estou a superá-los.
Veio o tempo de novos interesses, e eu dediquei-me a fundo.
Veio o tempo de novos confrontos, e eu dei o peito às balas.
Veio também um outro tempo que me faltava na vida e eu... renasci!
Nem sempre foram tempos fáceis e nas horas mais difíceis pensei sempre em ti, na falta que ainda me fazes, na companhia ímpar dos serões que passávamos juntos. Do teu olhar que expressava sempre tanta serenidade, tanta compaixão e tanta compreensão ao mesmo tempo.

Na verdade, meu Yiuri, os tempos que vieram foram, afinal, tempos de mudança pois está (quase) tudo diferente do que era há quatro anos atrás... quando partiste.

Constança e Zwé
Quatro anos!...
O tempo fugiu do meu controlo e quando dei conta o teu dia, lembrado em silêncio na véspera, acabou por voltar a ser recordado apenas mais tarde, depois da data.
Quis ir levar-te flores frescas e não o fiz.
Olhei para trás para tentar perceber porque razão me esqueci e... não estou certo de que tenha sido 'só' por lapso de memória... Acho que não quis chorar nesse dia. Admito que foi por isso, por cobardia, apenas... Seria fácil, por outro lado, esquecer-me desse dia porque para mim é um dia triste. Mas é também o dia em que me olhaste pela última vez antes do teu último suspiro e isso... não se esquece. Magoa. Muito. Não se esquece!...


"E ela de ti, eu sei!!"
Mas como te dizia no inicio, cão-do-dono, a minha vida seguiu em frente.
Nasceu a Constança, a mana que nunca te dei e quis sempre que tivesses conhecido! Por isso te falei no tempo em que renasci! Com ela por perto todos os dias volto a acreditar num amanhã melhor! Havias de gostar tanto dela!! E ela de ti, eu sei!!
Como cheguei a contar-te, o Yankie desapareceu e nunca mais tive notícias dele, mas a Yuca, a Judie e a Gipsy continuam por cá! Estão mais velhinhas e com mais manias, mas estão bem! A Gipsy teve de ser operada para retirar um tumor e chegou mesmo a ser sugerido que ela... partisse, mas sabes bem como sou e como me inverto para os que mais amo e felizmente correu tudo bem com ela e agora... parece mais jovem e tudo!!
Tu deixaste muitas marcas na minha vida e a pensar nisso e com esperança de uma amizade como a nossa, trouxe uma nova amiga para casa, a Zwé, para que ela cresça com a Constança e um dia elas preencham outras páginas de aventuras tão ou mais marcantes do que as nossas. A Constança está a fazer na próxima semana16 meses e a Zwé faz amanhã 10 meses.

Há dias lembrei-me de quando 'cantavas' ópera! Foi por causa da Constança, precisamente, ela estava a cantarolar qualquer coisa como "oh, oh, oh,oh..." com os braços levantados, como que a dançar e isso trouxe-me à memória aqueles teus momentos em que eu te chamava para cima de um banco, pegava-te pelo cachaço e tu, com a cabeça de um lado para o outro, qual Pavaroti dos cães, davas tudo o que tinhas! "Uuuuu, uuuuuuuuu, uuuuu, uuuuuuu". Tão doidos, os dois e quem te assistia!!

Esta conversa está a chegar ao fim...
Sabes...?, ainda me dói bastante quando recordo o nosso passado.
Não foi fácil a parte inicial desta conversa e as minhas lágrimas teimam sempre em invadir o meu espaço e saltar dos olhos. Não me incomoda ter esta dor comigo. Quando ela bate mais forte convence-me de que entre nós haverá sempre uma história para contar. 
A saudade, por maior que seja, faz toda a diferença pois permite que te mantenha sempre vivo no meu coração.

"O segredo do amor, é maior do que o segredo da morte" Oscar Wilde

terça-feira, 4 de novembro de 2014

120...150...200 km por hora

"(...)... e ganhamos noção do tempo todo já passado nessa solitária condição..."

Em 1970 (antes ainda de eu ter nascido), em plena ressaca de Woodstock e de todo o movimento cultural dos hippies, depois de todo aquele sexo, drogas e rock n'roll sustentado em paz e amor e muita revolta social, nos países de lingua portuguesa (mais marcante em África e no Brasil do que propriamente na metrópole onde se vivia de uma forma mais... oprimida), afirmava-se cada vez mais a 'jovem guarda' onde figurava e afirmava o Reinado, Roberto Carlos, o cantor brasileiro mais popular de todos os tempos.

As letras e as músicas que eram dadas a conhecer falavam em amor, mas também em saudade e em aventura. Vincavam um estilo ("hip" dos "hippies") que também se afirmava pela forma de vestir - aquelas calças à boca de sino, aqueles tamancos que colocavam nos pés, as camisas justas ao corpo... -, mas de uma forma mais metódica, em oposição aos hippies que se afirmavam pela forma completamente desleixada de vestir e pelas cores e floreados. Mas tudo isto, dizia, porque então começavam a proliferar canções românticas que embalavam em pequenas estórias de curta narrativa.
A que se segue é uma delas, de Roberto Carlos, mas que para lá da letra da canção, ouço e interpreto com diferentes sentidos...

"As coisas estão passando mais depressa. O ponteiro marca... 120"
Sem dúvida, uma viagem de carro, mas que para mim... é um retrato da vida que passa, todos sabemos, a correr. Talvez aqui eu pudesse estar a viver a idade dos 20´s, quando achamos - e acreditamos mesmo! - que podemos fazer tudo. Somos indestrutíveis!

"O tempo diminui, as árvores passam como vultos, a vida passa. O tempo passa.
Estou a 130... As imagens se confundem. Estou fugindo de mim mesmo. Fugindo do passado, do meu mundo assombrado de tristeza, de incerteza..."
Depois vem aquela fase da vida em que começam a surgir as responsabilidades. Começam a surgir os planos e olhamos para o futuro e... é tão incerto! Queremos trabalhar e começar uma carreira, mas não temos experiência. Quem pode contratar 'castiga-nos' por termos tentado viver os 20 anos... como que culpabilizando-nos por já ter passado essa fase... há mais tempo.

"... orgulhosos... casmurros... (...) heróis da noite..."
"Estou a 140... fugindo de você. Eu vou voando pela vida sem querer chegar. Nada vai mudar meu rumo nem me fazer voltar! Vivo fugindo sem destino algum. Sigo caminhos que me levam a lugar nenhum..."
Nesta fase tornamo-nos 'orgulhosos' e casmurros. Não temos nada, mas achamos que temos uma personalidade forte e confundimos isso com 'vaidade' e 'estupidez'. Nem sempre sabemos reconhecer quem nos quer bem e nunca concordamos com os mais velhos. Somos contestatários do sofá, heróis da noite, daqueles que à luz das estrelas são capazes de mover o mundo, mas que pela manhã... se esfumaçam em promessas, afinal, ocas.
"O ponteiro agora marca... 150. Tudo passa ainda mais depressa: o amor, a felicidade... 
O vento afasta uma lágrima que começa a rolar no meu rosto"
A vida afinal tem um sentido! Começamos a percebê-la. Os amores, os desamores, os amigos, a família... tudo começa a fazer sentido e começamos, finalmente, a 'avaliar' o trajecto então percorrido. Tanto tempo já perdido e a vida... aqui, tão à mão! Tão... pouco-bem aproveitada!

"Estou a 160. Vou acender os faróis, já é noite. 
Agora são as luzes que passam por mim. 
Sinto um vazio imenso..."
De repente temos 40 anos. Construímos a nossa própria família, ainda que tarde.
Já não olhamos para o percurso que ficou para trás. Agora olhamos para o que temos à frente e receamos os tempos que vão chegar...
O medo - uma sensação nova! - começa a tormar conta de nós... é o 'medo? de não estarmos. É o medo de não conseguirmos. Medos!...

"...nem quando vou parar..."
"Estou só na escuridão, a 180!
Estou fugindo de você!"
A estrada é longa e vamos prosseguindo sem mesmo darmos conta de que os cabelos brancos tomaram de assalto o nosso aspecto. Os filhos foram crescendo e até já opinam e dão palpites sobre o que está certo ou errado. Estão ainda tão 'despidos' de noção!

"Eu vou, sem saber p'ra onde nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho p'ra não saber voltar
Eu... sinto que o mundo se esqueceu de mim,
Não, não sei por quanto tempo ainda eu vou ser assim"
Olhamos uma vez mais para trás e esboçamos um sorriso amargo ao recordarmos as promessas e juras de amor que um dia se afirmaram como sendo para sempre. Olhamos para o lado e percebemos que a outra almofada está vazia. Compreendemos a razão de haver tanto espaço na cama... Recordamos as conchinhas e o peito largo que servia de apoio à cabeça da companhia amada. Recuamos nas memórias e ganhamos noção do tempo todo já passado nessa solitária condição. A saudade aperta e a pontada aguda que nos fere o peito estreita-se entre o passado e o futuro. Já nem sei quem receie mais...

"O ponteiro agora marca... 190.
Por um momento tive a sensação de ver você a meu lado... o banco está... vazio.
Estou só... a 200 por hora".
De repente estamos no final da vida. Somos idosos e já sem forças para ir muito mais longe. Os filhos estão criados. A vida está passada. O futuro nada me reserva. As memórias... ah! as memórias!!... São traiçoeiras e por vezes surgem apenas porque as desejamos com uma determinada recordação, já nem são reais... Já nem sei se alguma vez existiram... .
Até os amigos, aqueles que podiam às vezes resuscitar essas memórias, até 'esses' amigos já desapareceram...

"Vou parar de pensar em você para prestar atenção à estrada...
Vou, sem saber p'ra onde nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho p'ra não saber voltar
Às vezes, às vezes sinto que o mundo se esqueceu de mim,
Não!, não sei por quanto tempo ainda eu vou ser assim"

"Eu vou!...
Eu vou sem saber p'ra onde, nem quando vou parar
Não...! Não deixo marcas no caminho p'ra não saber voltar
... o mundo se esqueceu de mim...
... voando pela vida sem querer chegar
Nada vai mudar meu rumo p'ra me fazer voltar...
Não sei por quanto tempo ainda vou viver assim".

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Marília Pêra_120, 150, 200 km por hora (Brilhante!!)

domingo, 28 de setembro de 2014

BILINGUE AOS 13 MESES

Sempre sorridente e muito feliz
O bilinguismo precoce é uma realidade e é característico nas crianças que até aos três anos de idade aprendem a falar duas linguas ao mesmo tempo. Trata-se de um facto.
A minha Constança, atenta que começa a estar aos sons que ouve e tenta repetir surpreendeu-me um destes dias quando cheguei a casa depois de um estágio desportivo de 3 dias...
"A tua filha já fala inglês", informou-me a mãe, "queres ouvir?"
Desconfiei do que dali vinha, mas a minha alma encheu-se de curiosidade...
"(...) papá babado e meio palerma (...)"
"Constança", chamou a mãe, "diz: bye-bye!" 
Compasso de espera.
Eu sorria (aquele sorriso de papá babado e meio palerma que os pais costumam ter!) à espera de ouvi-la balbuciar qualquer coisa.
Ela, a filha-linda-do-pai, olhou para mim, levou a mão direita à cabeça, fez um sorriso maroto, e, sem hesitar, disse com uma completa perfeição: "bye-bye!", carregando sobremaneira nos "b´s".
Rimo-nos todos! Repeti para ela o mesmo "bye-bye" e ela "bye-bye", de novo!
"Quêêêêê???"
Foi uma paródia!
Nos dias seguintes ela até já respondia ao nosso "chau!, adeus!" com o bye-bye, fazendo a associação de que tudo significaria o mesmo.
Eu quis ir mais longe e comecei a pronunciar outras frases: "where are you from?, what´s your name?, how old are you"... e foi quando descobri que a minha filha, num ápice, também já falava angolano!!
Sim, eu disse "falar angolano" e não português (porque isso é o que ela tem estado a aprender), senão veja-se: às minhas divagações em inglês, ela fez um período em silêncio, como que a absorver o que ouvia e depois, para rematar e esclarecer o assunto respondeu apenas:
"Quêêêêê???"

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A FORÇA DO NOSSO AMOR

Ele perguntava com o olhar: "porque me fazes isto?" (andar de barco)
Há quem diga que a relação entre os homens e os animais, os cães em particular, estão traçadas antes ainda de haver contacto entre eles. Determinado cão tem determinado comportamento porque está directamente associado ao comportamento do "dono-companheiro-amigo" e por isso mesmo resulta a relação entre eles e não resulta a relação com outra pessoa, que se coloque entre ambos. "O cão é a imagem do dono", já todos ouvimos dizer!

Hoje volto a recordar uma história vivida com o meu Yiuri e que vem reforçar uma vez mais a cumplicidade que existia entre nós. Foram muitos os anos juntos e foram muitas as histórias partilhadas, umas boas, outras menos boas, naturalmente. De vez-em-vez a memória lá me assalta com uma recordação e de vez-em-vez, lá consigo organizar as ideias e aqui registar uns episódios.

Espinho (2006)
Este foi vivido em 2004. Era verão e vivíamos perto da praia, mas para lá chegarmos atravessávamos a linha do comboio que cortava a cidade em duas partes. Quando ia para a praia a maior parte das vezes optava por usar o túnel que ligava as duas margens passando por debaixo da linha férrea e mesmo quando cruzávamos a linha do comboio provavelmente nunca teria coincidido com a passagem de um comboio que não parasse nessa estação e passasse mais depressa, um rápido.


Mas aconteceu um dia!...
Numa tarde em que já regressávamos a casa e optando por atravessar pela estação adentro, quando nos aproximávamos da linha tivemos de parar para deixar passar um desses comboios rápidos (era um Alfa, na verdade) e não só o barulho da trepidação e dos carris aliado à velocidade já é assustador, como, à passagem pelas estações, é costume os maquinistas arrastarem uma buzinadela sinalizadora, o que além de assustar qualquer um ainda alarma.
Yiuri e Yuca

E assim foi que aconteceu: ao perceber a aproximação do comboio ajustei a trela que segurava o Yiuri, juntei-o a mim e permaneci quieto a 3-4 metros do limite da linha para ficarmos a ver passar o Alfa.

A buzina soava bem alto, a cancela que controlava a passagem dos carros e peões também emitia os sons das campainhas em alerta e no exacto momento em que o comboio passa e rasga o ar e faz aumentar o ruído para valores bem mais elevados... o Yiuri assusta-se, agita-se e tenta sair dali a correr. Latiu, como sempre fez quando se queixava de alguma coisa e deixou bem clara a ideia de que estava assustado. Muito assustado!

Sesimbra (2006)
Passaram algumas semanas e a verdade é que nunca mais consegui convencê-lo a aproximar-se da linha do comboio para podermos ir para a praia a pé. Tentei diferentes estratégias: atravessar em locais diferentes, com ele à trela, com ele solto... fiz de tudo, mas a verdade é que sempre que ele percebia que íamos na direcção da linha de comboio tentava fugir, travava a marcha e recuava, ladrava insistentemente... enfim, deixava clara a posição dele e não passávamos.

Por essa altura viajei para Inglaterra e com toda a burocracia que existe para levar um animal para o Reino Unido, a solução foi mesmo deixá-lo por cá. Ainda que consciente de que ele estava a ser bem tratado fui sabendo que havia dias em que andava mais triste e saudoso, como eu, de resto, em terras de Sua Majestade. Regressei ao fim de algumas semanas e de alguma forma ele sentiu o meu regresso pois tanto quanto me foi dado a saber, na véspera ele terá passado todo o dia junto ao portão e acabou mesmo por dormir lá, como que à minha espera.

Aniversário 10 anos (2007)
Uma vez regressado e de novo juntos, passados uns dias saímos para passear em direcção à praia.
O passeio corria muito bem até ao momento em que ele percebeu onde estava e para onde íamos... Eu já me tinha esquecido do "trauma" dele, mas ele não. Começou com aquele "festival" de latidos e tentativas de recuar e voltar para trás... com toda a gente a olhar com ar incrédulo, como se eu estivesse a torturá-lo ou algo igualmente sofrido...

Com toda a calma do mundo e percebendo que à força não o convencia de modo algum, passei a trela a quem estava connosco (e que tinha tratado dele na minha ausência), foquei a atenção dele em mim e despedi-me dele: "Yiuri, o dono vai embora. O Yiuri fica!", e avancei na direcção que queria.

Ele ficou baralhado...
Deixou de ladrar.
Olhava para mim com aquele ar confuso e de quem ainda tinha muitas saudades minhas...
Consegui perceber o balão de pensamento dele: "então?! ainda agora chegaste e já me vais deixar de novo?! Não quero!"

Foi um momento único. Eu já estava uns bons 8-10 metros à frente quando ele avançou na minha direcção arrastando quem o segurava e saltou para mim, aos berros: "espera! eu vou! eu vou contigo! estou aqui!"...

Acarinhei-o e entre festas e sorrisos lá seguimos todos juntos para um passeio excelente com muitas fotografias à mistura como se nada fosse e não houvesse mais nada que se intrometesse entre nós.

O trauma ficou curado logo ali e sempre que quisemos fazer o passeio ele encarou a linha do comboio como se jamais tivesse havido razão alguma para hesitar. Foi o poder do amor que o curou. Foi o poder da força que tinha o nosso amor!


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

REGRAS PARA A VIDA

"(...) o teu caminho vais ser tu a fazer (...) e quando fores embora contigo também vai o coração de um pai (...)"
Filha, passou um ano (e tão rápido que isto foi!!) desde que abriste os teus olhos pela primeira vez e fulminaste os meus, tocando bem dentro de mim, no coração. Hoje, à distância de 5 dias para o teu 1º aniversário resolvi cuidar do tempo, não vá ele continuar a passar em corrida e um dia surpreender-me sem que tenha tido tempo para te dizer o que quero.

Um dia, já amanhã, vais ser crescida e ser capaz de ler isto.
Depois, num outro, vais voltar a ler e então interpretar com o teu coraçãozinho tudo aquilo que preenche o meu coração, apenas por... existires.

Por muito que nesta fase da tua vida tudo te pareça simples e até mágico, por muito que te sintas sempre protegida e amparada, a verdade, como mais tarde vais acabar por descobrir, é que nada é o que parece e, pelo contrário, é tudo bem mais difícil e complicado do que hoje sabes. Por isso mesmo, Constança, quero que atentes nas minhas palavras pois mais cedo ou mais tarde vais precisar de tomar decisões sozinha; decisões tuas que vão levar-te a escolhas e caminhos só teus, mas que eu quero que sejam diferentes das minhas e melhor ponderados do que os meus.

Presta atenção, pois são muito curtas as "regras" que precisas gravar em ti para ires sempre mais além e protegida.
A primeira: se gostares de alguma coisa porque achas que as outras pessoas vão gostar, é garantido que ninguém vai gostar.
Segunda: a maioria das portas no mundo [vais acabar por notar] estão fechadas, portanto se encontrares alguma onde queiras mesmo entrar, filha, bate de forma bem interessante!
Terceira regra: tudo o que achas que é importante... acredita: não é. E tudo o que achas que não é importante, é.
Quarta: sê grata e nunca cuspas no prato onde comes... Perceberás.
Quinta e muito importante: empenha-te! Dá tudo o que podes! O resultado não interessa. O que interessa é que estejas presente. Seja o que for, bom ou mau.
Sexta: escolhe bem em quem confias os teus problemas (porque infelizmente e de alguma ordem, acabarás por ter...) e nunca os confies a alguém que tenha mais problemas do que tu!
Por fim, minha béba, a sétima regra e que o teu pai tão pouco soube como usar: conta sempre com o ombro da tua família. Não só eu e a tua mãe que te amamos acima de tudo e de todos, mas também os teus avós e tios mais próximos, pois melhor do que ninguém, nós conhecemos-te e amamos-te incodicionalmente!