segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

AMOR DE PAI

"(...) e não quero cura para essa loucura."
* Este texto é sobre a minha filha, Constança, mas é para ti, Yiuri.

O tempo passou num ápice e já correram quatro meses desde que fiz da palavra "filha" a mais querida e desejada no meu dicionário.
Têm sido momentos de grande cumplicidade e ternura.
Sonhei com isto toda a minha vida e agora que finalmente sou pai... o que sinto em mim é tão grande, tão estupidamente grande... que não cabe em mim.

Tudo começou naquele inicio de tarde em que vi a minha filha nascer. Talvez ainda não estivesse certo do que aquele momento viria a representar; foi tudo muito vivido e sentido - e há aquele olhar directo que me tocou na alma (contado em "Sonho de Menino", neste blogue) -, mas o momento em que disparou o clic, o momento que terá accionado esta... loucura que admito sentir pela minha béba, terá sido quando ela apertou a mãozinha dela à volta do meu dedo mindinho e me passou a sensação de que ali, naquele instante, juntos, seríamos capazes de conquistar o mundo.

Toda a energia dela estava reunida naquele gesto e mesmo assim ela passou-ma para que eu a inalasse num sorvo e  renascesse para ela. Nesse momento, com aquela dádiva, sem dúvida, enlouqueci; fiquei louco pela minha filha e não quero cura para essa loucura.

É uma loucura positiva, do tipo que desperta saudade na voz quando falo dela e não a tenho por perto; é uma loucura que me acelera a vontade de chegar a casa para voltar a estar com ela; é uma loucura do tipo "tenho de lhe dar um beijo e um abraço" para poder sentir que ela está mesmo ali, sempre, para amar e para ser amada. É a minha loucura!

Antes disso, sei, já estava apaixonado por ela e isso terá acontecido assim que a peguei no colo e a envolvi nos meus braços. Soube disso assim que a senti respirar o mesmo ar que eu e assim que a aconcheguei no meu peito. É tão bom estar apaixonado desta forma!!!

Agora, com o sorriso que esboça ao acordar, com as gargalhadas que rasga ao rir das brincadeiras e dos sons que se inventam, com o choro de malandrice que também já sabe fazer... e com todas as descobertas que ela vai fazendo a cada dia que passa... não tenho qualquer dúvida em assumir que estou viciado nela!

Antigamente, quando chegava a casa, tinha os maus cães aos saltos para lhes dar atenção e a manifestarem a alegria que nunca souberam esconder por me terem de volta; agora, quando chego a casa, além deles aos saltos - esse amor é incondicional e não muda! -, eu próprio me vejo ansioso e a arfar (e até aos saltos!) para chegar rapidamente ao reencontro com a minha béba!...

É curto ainda, mas já temos um passado juntos...
Para ser perfeito, só faltas tu, Yiuri. Ias gostar dela, eu sei! Ela vai gostar de ti.

Amo-te minha filha.
De todo o coração.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

QUIS SABER QUEM SOU

"Não há qualquer registo de felicidade ou de aventura na viagem de Moçambique para cá"
Parte da minha vida - melhor, da minha existência - foi sempre um grande mistério para mim. Sempre me vi como uma peça de um puzzle gigante, dos que têm milhares de peças e deixam sempre a ideia de que será impossível montar porque... vai faltar alguma, certamente.

A verdade é que nasci num país distante onde, na altura, se considerava apenas como sendo uma extensão da Pátria, a Metrópole, Portugal. Nasci pouco antes do final desse prolongamento da Nação, em Abril de 1973, exactamente um ano antes da Revolução que, de certa forma, provocou o caos para tantos milhares de portugueses de todas as ex-Colónias.

É aí que entram as peças do meu puzzle.
Tenho memórias naturalmente fugazes de tempos agora idos e vividos que remontarão a 1976 e 1977, os anos que marcam a nossa vinda para Portugal.
Não há qualquer registo de felicidade ou de aventura na viagem (viagens) que nos trouxeram de Moçambique para cá. O País estava sob uma grande agitação e tudo carecia de ordem e organização. Tudo estava a começar de novo. E "tudo", aqui, representa Portugal, representa as ex-Colónias e representa, acima de tudo, as pessoas. Pessoas que tinham uma vida e que a perderam, pessoas que não tinham nada e ficaram ainda pior e pessoas, as de cá, que não estavam preparadas para receber as pessoas que vinham de lá.

"Tenho imagens desse tempo"
Corria uma espécie de xenofobia e os "portugueses de cá" chamavam, de forma reprovatoria e descriminatoria de "retornados" aos "portugueses de lá". Os retornados, na verdade, eram refugiados e eles, mais do que ninguém, sentiam-se deslocados...

Tenho imagens desse tempo. 
De quando viemos e não nos adaptámos. Regressámos e já não fomos aceites. Deixámos de ser refugiados e passámos a ser "não gratos". Fomos expulsos.

Tinha 3 anos. 
Recordo-me de aterrar na então União Soviética - um voo de escala - e caírem flocos de neve. Parecia mágico! Tinha sandálias calçadas e vestia calções. Recorda-me o passo apressado de todos os que saiam do avião e percorriam a pista. A minha Mãe falou-me da neve, do frio e daquelas pessoas que funcionavam como relógios.

Em Lisboa, sem saber relacionar se na primeira ou na segunda vez, recordo-me de termos ido para casa de familiares sem "rótulo" porque já cá estava há mais tempo e... de não termos sido recebidos e tratados da forma mais calorosa, quando se percebeu que tínhamos pouco mais do que o que trazíamos...

Lembro-me de a minha Mãe chorar. 
Hoje percebo as lágrimas e a força que tentava mostrar, mas que não tinha porque não sabia como seria... o dia seguinte.

Lembro-me daquelas pessoas todas a dormir no aeroporto da Portela à espera de qualquer coisa que nunca mais chegava. Eram filas e filas de gente destroçada e sem brilho. Lembro-me que também nós, como tantos milhares de pessoas, ainda termos lá dormido.

Quatro décadas depois, quando também eu me separei daquele menino de três anos que de alguma forma se envergonhava de ter vivido aqueles tempos tantas vezes encobertos por uma tristeza que não vinha dele, mas do que estava em redor dele, eis que a RTP produziu e apresentou uma série televisiva que exibiu em horário nobre e que veio trazer a conhecimento o desespero, as motivações e as privações de todos aqueles que foram forçados a vir para Portugal para escapar à morte e salvar as famílias perdendo nessa demanda, tudo o que tinham em Angola, em Moçambique - sobretudo aí, mas também na Guiné, em Cabo Verde, em São Tomé... onde quer que fosse desse Portugal Ultramarino.

E se não tem havido a ponte aérea?
A série, "DEPOIS DO ADEUS", mais do que simples entretenimento, ilustra uma parte importante da História de Portugal; uma parte que não é retratada nos livros escolares e que mais parece nunca ter existido, tal a indiferença política e social que apagou por completo o degredo social que se instalou no País depois do 25 de Abril de 1974. 
A série é emocionalmente forte, mas ainda fica aquém da real catástrofe que foi o negligente e criminoso abandono do Ultramar. 
Na série também se ilustram os oportunistas que fizeram dinheiro à custa da desgraça social. Mostra uma parte do programa do Governo que através do IARN [Instituto de Apoio ao Retorno dos Nacionais] alojara milhares de famílias em unidades hoteleiras espalhadas por todo o País e aflora, ainda, a questão dos subsídios e senhas de refeição que então foram atribuídos, mas não retrata nem evoca a proliferação de barracas e miséria que se espalhou igualmente pelo País e com grande predominância pela Área Metropolitana de Lisboa.

E fomos atirados aos tubarões...
A tantos milhares (milhões) de portugueses como a minha Mãe, o retrato da série provocou emoções fortes que despertaram memórias e vieram abrir feridas que o tempo tinha tapado, mas nunca sarado. Emoções que devolveram lágrimas que brotaram directamente do coração de quem perdeu tudo, veio com uma mão à frente e outra mão atrás e a quem apenas sobrou a dignidade.

Para outros, como eu, a série levou a perceber algumas memórias que à distância do tempo já vivido se confundiam entre o real e o imaginário, mas que de facto aconteceram. Quem as viveu não foi este homem adulto que hoje regista estas palavras, mas o menino de três, quatro aninhos, que também era... eu.

Quantos desses forçados retornados tiveram uma real segunda oportunidade depois de regressarem à terra-mãe? Quantos se perderam no álcool, na droga, na prostituição...? Quantos perderam as forças e puseram fim à própria vida? 

Era isto a Metrópole...!? 
Que desilusão!...

Sem fazer política ou politiquice e ainda que aqui mal pergunte, onde estão agora os políticos de então que ainda não os vi perfilar para pedir desculpas à minha Mãe que teve de encontrar forças onde já não havia e que ainda assim me criou, me passou princípios e me educou sem discutir ou mostrar a revolta que lhe assolava a alma com a vida que lhe calhou em sorte?

Hoje, quando olho para trás e penso em tudo aquilo que me assalta a memória... uma pergunta se mantém: e se não tem havido a ponte aérea? O que teria então sido de todas aquelas pessoas, de mim, da minha Mãe...?

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

SONHO DE MENINO

Nasceu a Constança, Raínha dos nossos corações
A alegria, tal como o entusiasmo e a vontade de partilhar o momento é tanta e tão grande... que me faltam as palavras!... E é estranho porque são as mesmas palavras que ouço dentro de mim numa qualquer festarola de emoções e que se assaltam num turbilhão de ideias soltas e desorganizadas que invadem a silenciosa sala do meu escritório a favor de um imenso ruído de frases que se esmagam em gritos e empurrões de palavras umas às outras numa pressa louca de saltar cá para fora, mas ainda sem ordem ou apresentação.
Apetece-me gritar que parem!
Que me deixem pensar um pouco!
Explicar que se me permitirem vou poder organizá-las e assim poder trazê-las, a todas, para que venham ilustrar e revelar tudo o que me vai no coração e na alma e em todos os poros por onde respiro.
Reforçar-lhes a ideia de que será a partir delas que vou poder gritar ao mundo que de facto estou feliz, que renasci e que sou pai! Pai de uma menina. Pai da Constança! Pai... de verdade!

Hoje não me interessa a ordem dos factos.
Não me interessa o tamanho do texto. Apenas escrever, libertar a alma da prisão de sentimentos-contidos e deixá-la à solta pelos campos abertos de par-em-par, entre pequenas dunas de areia e colinas de flores cheirosas, mas com um vasto horizonte onde apenas a brisa possa correr sem machucar as delicadas pétalas coloridas que dão vida e que dão cor à felicidade que me assola aquecida por uma luz em forma de sol e de luar como se ambos se fundissem e também neles se reflectisse todo esse amor que me cabe - que já me cabe! -, no peito.

Assisti a todo o processo durante o trabalho do parto.
Estava lá quando apenas a mãe se queixava de dores.
Estava lá quando começaram as contracções.
Estava lá quando finalmente surgiu o primeiro tufo de cabelos, colados à nuca da cabeça...
Estava lá quando ela finalmente saiu.
Estava lá quando ela, por fim, abriu repentinamente os olhos... e cruzou os grandes olhos dela bem fundo, bem lá dentro de mim e dos meus pequeníssimos olhos (assim me senti quando ela os absorveu), plantados exactamente por cima dela.

Também lá estive enquanto a limparam, enquanto a cor dela se modificou e enquanto se esperava por um primeiro choro... que afinal não se ouviu.
Estava lá quando senti o primeiro momento de preocupação e responsabilidade por aquele pequeno ser que acabava de chegar ao mundo... tão frágil e tão... desprotegido. Senti as primeiras lágrimas rolarem no meu rosto. Estava feliz, no entanto chorava... em vez de sorrir!...

Uma nova família
Por momentos esqueci o papel da mãe, que estava bem, ainda com  dores e muito ansiosa, como eu, por conhecer a filha. Os meus olhos estavam colados na Constança. Ela era a minha luz, logo ali, na sala de partos, e eu sabia disso. Eu sentia isso. Eu não lutava para que fosse de outra forma! Para quê? Era mais forte do que eu!

Escrevo estas palavras à distância de oito dias. Os primeiros oito dias da Constança!
Os meus primeiros oito dias de uma nova vida!
De uma vida com sentido e de um novo sentido para a vida.
Todos os dias me enamoro mais pela minha filha!
Todos os dias cresce este sentimento há tanto tempo desejado e por tantos anos... conscientemente adiado.
Eu sei, sempre soube disso: nasci para ser pai e agora realizei esse meu sonho... de menino.
Não, não tem porque parecer estranho.
Pelo contrário, é até muito simples: cresci sem pai biológico e sempre, desde pequeno, pensei de mim para mim, que um dia viria a ser para alguém o pai que eu próprio nunca terei tido. E desde que me lembro, agarrado a essa ideia desde pequenino, este sempre foi o meu sonho mais antigo e que só agora, aos 40 anos, 3 meses e 11 dias, finalmente concretizei. E que sonho!!
Tudo o que vier a seguir jamais será fruto de um desejo tão forte e tão antigo como este meu sonho de menino!

PROMESSA DO PASSADO
Com o nascimento da Constança também é verdade que caiu por terra uma promessa antiga e que se manteve por mais de 20 anos. A história foi contada de namorada-em-namorada e mantive-me sempre fiel à intenção de assumir em cada relação, que um dia teria de poder cumprir a minha palavra. Tinha 16 anos e prometera a uma namorada de então que se "o meu primeiro filho for menina... terá o teu nome" e esse nome era Áurea. Fui sempre verdadeiro e sempre contei sobre essa promessa de adolescente apaixonado e quando tivémos de discutir os possíveis nomes... "Áurea" ainda avançou várias etapas, mas, de facto, "Constança" foi o nosso preferido.
Houve mesmo quem sabendo da história e habituado a ver-me sempre tão cumpridor da minha palavra, ainda me provocasse a respeito do assunto, mas, sem meios, nem porquês, a explicação é muito simples: foi mesmo por uma questão de gosto!
Quanto à Áurea, a que foi namorada há 24 anos atrás e de quem nada sei há mais de... 15..., sei que compreenderá a minha decisão e talvez nem se lembrasse mais da promessa que um dia terei feito. Para todos os efeitos fica aqui o meu reconhecimento público da promessa quebrada. A primeira que não cumpri em consciência e disso não posso gabar-me.

MENINO OU MENINA?
"Talvez sempre soubesse a resposta..."
Talvez sempre soubesse a resposta a esta questão, mas a verdade é que optámos por deixar a resposta para o momento do parto. E mesmo isso foi negociado! Mas já lá vamos...
Antes explicar apenas que desde há muitos anos que quando se pedia que se apertasse o queixo para se "saber" se ia ter um menino ou uma menina, a mim surgia sempre como resposta "menina", visto que unido o queixo entre os dedos ficava sempre o aspecto de uma "passarinha" com a risca do meio a encolher salientando duas faces laterais. Voltei a recordar-me disso na viagem de regresso a casa, no dia em que nasceu a Constança e, ao voltar a tentar o gesto, de frente para o espelho retrovisor do carro... lá estava ela, a mesma "parreca" de sempre!
Também sonhei, por duas vezes, na fase final da gravidez com duas meninas. No primeiro sonho, recordo-me, era uma menina já rechonchudinha, dona de uma beleza invulgar e de uns olhos incrivelmente azuis e vistosos! Mas... azuis?!? Como? Quando muito verdes ou esverdeados ainda percebia, porque fazem o meu tom castanho-esverdeado, mas... azuis?!? Bem... a mãe dela diz que sim, que pode puxar a parte da família materna onde existem (e eu conheço) pessoas com os olhos claros.
Bem... também foi só um sonho! (?)

CATALUÑA - ESPAÑA
O quarto da Constança preparado quando apenas era um bebé
Correm os tempos em que os segredos e mistérios da gravidez estão anulados por força das novas tecnologias e facilidade em antever o sexo dos bebés logo nas primeiras ecografias.
Quando soubémos da gravidez, imediatamente a seguir começaram as questões da mãe que dizia querer saber o sexo do bebé, face à minha ideia de não querer saber o sexo. Porque havia as questões relacionadas com o quarto do bebé, as roupas, os nomes... tretas! Tudo isso - como se provou de resto - não tem a menor importância. Quando comecei a perceber que podia não conseguir levar a minha a avante, mudei de estratégia. Deixei de atacar e dei a iniciativa. Mostrei que começava a abandonar a ideia e saí-me com novo flanqueamento: "filho meu tem de nascer em Espanha!", assumi, "e digo mais, em Barcelona, no Reino da Catalunha".
Aos porquês enchi-me de razão para falar da Crise que se vive, da capacidade de independência que estes teriam face ao resto de Espanha, ao anunciado colapso destas terras lusas viradas ao Atlântico, que de tolo já bastava o Rei que pegou no cavalo e veio a galope contra os mouros e sempre em direcção ao Sul, e até das possíveis férias que poder-se-iam fazer em Agosto - o mês previsto para o nascimento -, nas praias de Barcelona. A história pegou e ao claro e estampado rótulo de louco que me foi imediatamente atribuído, respondi prontamente: "estás a ver?!? Nenhuma das minhas sugestões é aceite! Prefiro a surpresa do sexo, tu queres saber; gostava muito (é sobejamente conhecida a minha inclinação e defesa a favor de Espanha e como me irrita D. Afonso Henriques que desde logo mancha a História ao bater na mãe, mas piora muito mais quando funda um Portugal independente de Espanha!!) que o meu filho nascesse em Espanha e tu que fazes? Estás a cortar a ideia!..." Insisti nisto o suficiente para me tornar crivel. E... para suspresa minha ouvi a primeira cedência na negociação: "pronto. Nesta ecografia não vamos saber... mas não prometo nada!"
Eh! Eh! Eh! Eh! Estava no papo!!!
A verdade é que para o final da gravidez ela até já fazia o mesmo gosto que eu em manter a ideia da surpresa e ela mesma lembrava sempre, em cada consulta, que nós não queríamos saber o sexo do bebé!


Em Roma como aqui, o anúncio foi recebido em júbilo
ABBIAMO BAMBINA
À imagem do fumo branco que se esvai de uma chaminé em Roma aquando do anúncio de um novo Papa, também a nossa menina foi anunciada ao mundo (no mundo do facebook) por um fumo... rosa que se precipitava a partir de uma chaminé para gáudio de todos aqueles que anseavam pelo anúncio. De uma só vez e de forma mais completa do que a Igreja Apostólica Romana, com o mesmo fumo anunciávamos o sexo e revelávamos o nome escolhido. De imediato surgiram as mais variadas reacções e todas elas... evocando o nome "Constança" nos comentários. Aposta ganha!


FACTOS E COINCIDÊNCIAS
Não só de certezas se escreve este relato.
Houve imensas coincidências que à luz dos acontecimentos foram, afinal factos confirmados.
Primeiro a minha convicção: "filha minha, para não criar embaraços profissionais ao papá, vai nascer num fim-de-semana", assumi por diversas vezes principalmente à mãe, que teimava em afirmar que eu estaria em viagem quando ela entrasse em trabalhos de parto. Nasceu num domingo.
Outro: "filha minha não vai prestar-se a grandes choradeiras! Vai saber estar e comportar-se. Quase nem vai chorar, garanto!" Na verdade ela não chorou quando nasceu. Estava muito curiosa com tudo, mas não chorou. Isso assustou-me filha, porque esse choro era gratuito e estava previsto acontecer. Eu não me incomodaria.
Resultado: andei sempre na expectativa de ouvi-la chorar, o que na realidade faz a espaços, apenas (mas tem uma boa goela!!).
"Não só de certezas se escreve este relato"
A hora do parto. Depois de a mãe muito sofrer entre contracções e dilatação, eu mesmo fiz um cálculo e apresentei ao médico obstetra em jeito de aposta e de desafio: "até às 15 horas o bebé está cá fora, vai ver!", disse-lhe eu quando apenas havia 6 dedos de dilatação e era quase meio dia. Às 13h41, isso aconteceu.
Talvez tenha sido bom eu ter estado calado mais vezes do que a dar palpites, não fosse dizer mais alguma coisa que não devesse!
Por fim a mais terrível das coincidências: imediatamente antes de nascer a Constança, dei entrada nas urgências do hospital e acabei por lá ficar internado durante nove dias. Fui operado, fiquei sem a vesícula, houve ainda espaço para uma pancreatite aguda... enfim! Saí numa quinta-feira à tarde para descansar um pouco em casa e a minha filhota nasceu nesse intervalo, como se tivesse estado à espera. Mas nasceu e... ficou internada na neonatologia porque a mãe fez febre durante o parto e a bebé esteve a tomar antibiótico.
Quanto tempo de internamento?!
.... pois foi: nove dias, como o pai!
"(...) senti o primeiro momento de preocupação"

PARA A VIDA
As palavras, quando escritas, ficam gravadas para sempre. O mesmo não acontece quando as pronunciamos porque o tempo vai encarregar-se de processar outras palavras por cima e num certo momento, daquela conversa já só sobra uma ideia e... mais tarde, até isso fica esquecido.
Vou poder contar à minha filhota como, quando e em que circunstâncias se multiplicaram uma série de acontecimentos, mas mesmo quando eu já for velhinho e a minha memória estiver preenchida com muitos mais espaços em branco do que filmes vividos, ela vai sempre poder vir aqui e ler cada etapa que me permitiu viver antes, durante e após o nascimento dela.

Como poderei esquecer aquela ecografia das 20 semanas em que se ampliou o pequeno rostinho do bebé e se percebeu pelos lábios qualquer coisa muito precoce como o bebé estar a dizer "papá"?!? Incrivel de facto, mas aconeteceu diante mim, da mãe e da obstetra que fazia o exame.
Como vou poder esquecer aquele momento imediatamente após o parto em que ela sai em posição contrária à esperada, a olhar para cima, de olhos fechados e quando eu me inclino mais para cima dela, naquele momento ela... abre os olhos enormes e me fita não nos olhos, mas na alma? Que sensação incrivel foi aquela??!!?
O primeiro colo que lhe dei, antes ainda da mãe. O primeiro biberão, a primeira muda de fralda... como posso impedir que todas essas marcas não venham a ficar comigo para toda a vida?
Nem queria outra coisa, de resto.

Agora somos uma família.
Para o que der e vier teremos de estar juntos e ultrapassar juntos os desafios que surgirem pela frente.
Agora, mais do que nunca, mais fortes e mais coesos!
"Não posso viver sem vocês porque agora somos uma família", disse-nos a mãe, babada de emoção.

sábado, 6 de julho de 2013

O CANTINHO DO YIURI

O Cantinho do Yiuri - Cemitério Para Animais Domésticos em Nogueira da Regedoura
Foi uma agradável e sentida surpresa quando um destes dias fui visitar o Yiuri e encontrei as obras do Cemitério Para Animais já completamente concluídas.

Finalmente concluído
Foi surpresa porque já estava pouco crente de que as obras fossem mesmo para concluir e porque de cada vez que lá ia para conversar com ele ou para levar umas flores, dava por mim a vir de lá ainda mais desgostoso por não perceber que ele pudesse finalmente descansar no lugar que lhe era devido. Ultimamente o lugar estava cheio de silvas e ervas daninhas e até a placa do meu menino já estava coberta pela vegetação. Optei por ficar uns tempos sem lá ir, mantendo-o apenas no meu pensamento e no meu coração. Encontrava-o e via-o em sonhos e fragmentos de imagens e isso... sem que bastasse, foi servindo.

Mas voltei lá. Esperava ter de ficar à distância sem conseguir aproximar-me o suficiente para poder tocar "nele" ainda que através da placa, mas quando lá cheguei... a obra estava concluída e a placa dele estava no devido lugar, e estava limpa e estava livre de qualquer vegetação! Fiquei feliz. Sorri sozinho. Surgiram milhares de questões e tinha de esclarecer todas e cada uma delas.

26-05-1997 - 27-11-2010
Peguei no telefone e marquei o número da pessoa que desde a primeira hora me garantiu que a obra se faria, o senhor Rui Rios (não confundir com o actual presidente da Câmara do Porto, que é Rui Rio!): "Senhor Rios? - comecei, ainda que desconfiado de que não se recordasse imediatamente de mim ou de que já não tivesse no visor do telefone dele o meu nome a aparecer - Como está? Daqui fala Emílio Amarchande... aquele que motivou a construção do Cemitério Para Animais..?!" e, do outro lado: "Sim, o dono do Yiuri! Como está?", logo por aqui o reconforto de ser reconhecido e identificado pelo real elo de ligação, o Yiuri, ainda tratado como presente e sendo parte da História.

E lá comecei por felicitar pelas obras concluídas e depois por pedir um ponto de situação. Explicou-me que de facto tinham sido ultrapassados os problemas legais que se impuseram com o protesto de um vizinho do Cemitério, contou que já lá estavam mais alguns cães sepultados, citou algumas regras de funcionamento que já estavam definidas e revelou que actualmente (e apenas falta esse detalhe para que se proceda à inauguração oficial do local) estava apenas em discussão o nome a atribuir ao sítio e que em cima da mesa estava poderem vir a registar o local como O CANTINHO DO YIURI, "porque - explicou - ele foi o primeiro e o grande responsável por tudo isto". 

Por um momento fiquei sem palavras, completamente em silêncio e sem grande memória do que ele terá dito a seguir. Senti quando os meus olhos marearam e quando a garganta ficou seca. Percebi que era a minha gratidão pelo reconhecimento que estava a querer manifestar-se. Arrastei qualquer coisa na ou da garganta e agradeci. Ficámos de voltar a falar e desliguei pouco depois.

O Yiuri está aqui
A seguir reparei num outro pormenor: a placa sobre o chão de betão que serve de tecto à zona tumular estava colocada exactamente sobre o local onde inicialmente ele fora sepultado. Significava que tinha havido esse respeito, que na transladação da urna o tinham devolvido ao primeiro lugar por mim escolhido para que o sepultassem. Já não contive mais o tal mar que instantes antes me inundava os olhos e deixei que as ondas de lágrimas corresem pelo meu rosto. O Yiuri estava finalmente em casa e em Paz! O Yiuri tinha sido tratado com todo o respeito que lhe é devido e sem que para isso eu tivesse de ter lá estado, para zelar pelo cumprimento de todos os trâmites.

Conversei um bocado com ele e senti que ele está tranquilo. Eu estava.
Por muitos anos que passem, por muitas vivências que tenha, o Yiuri jamais será esquecido e viverá sempre e para sempre no meu coração.

Naquela tarde, no Cantinho do Yiuri, percebi que não foi apenas a minha vida que foi tocada por ele e fiquei imensamente feliz por sentir que há mais gente que permite ser tocada onde apenas o amor tem espaço para caber, no coração.

Para o meu Melhor e Maior Amigo entre os Amigos, sempre recordado e sempre presente, o Yiuri.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O MEIO DA VIDA

"Ainda ontem era apenas... uma criança"
Nesta corrente que nos leva e tantas vezes arrasta num sentido sem... qualquer sentido, lá vamos nós, ora à boleia, ora à deriva, numa caminhada lado-a-lado com a vida que nos calhou em sorte.

No percurso, nem sempre íngreme, mas nunca sempre plano, vemos passar os anos e vamos tentando somar conquistas e vitórias que apaguem o amargo das derrotas e dissabores que também insistem - dizem alguns que só assim tendo piada!? - em marcar presença nessa mesma caminhada que é a vida.

Quarenta.
Foram já 40 as vezes que vi passar as Estações da vida!

Neste rodízio de anos sobre anos - uns com mais sal e menos pimenta do que outros - acumulam-se experiências e vivências boas e más, mas todas, na verdade, com o único propósito de terem contribuído unicamente para uma só conquista: a da experiência de vida.
Em muitos mais do que apenas alguns casos, diria mesmo que ter-se-á tratado de conquistar a experiência de uma vida!...

Mas também já olho para trás...
Também já consigo - qual vitória saudosista!! - ter referências temporais que me colocam à distância de 10, 15, 20... 25 anos atrás e para esse período poder recordar estórias e História entretanto perdidas em lembranças, apenas.

Pfff....!!!
Como é possível?!?....
Ainda ontem era apenas... uma criança, apenas com um futuro pela frente.
Hoje, já homem... apenas tenho um passado.

A razão é dos "velhos", os mais velhos do que nós.
Aqueles quem sempre ouvimos disparar os alertas da experiência e a quem... e a quem nunca ousámos admitir que estavam, afinal..., certos. Cobertos de razão.

Todos aqueles que ao longo da vida fomos conhecendo e nos foram repetindo mensagens sobre a "quantidade" e a "qualidade" dos amigos que temos e dos amigos que nos rodeiam.
Aqueles que se referiam ao passado sempre com a frase "no meu tempo".
Aqueles mesmos que tantas vezes nos repetiram por palavras mais reconfortantes - como que a esconder as vergonhas dos fracassos pessoais - conselhos simples de como deveríamos aproveitar melhor cada ano e cada etapa da vida porque, como eles mesmos, os mais velhos, estão sempre a dizer: "a vida passa num instante"!

Agora somos nós.
Somos nós que já olhamos para trás e começamos a repetir a mesma ladaínha.
Somos nós que começamos a identificar as mazelas que ficaram dos anos em que tudo se fez sem nunca se recear a factura do amanhã.
Agora somos nós que encaramos a vida de frente para com as responsabilidades, para com os deveres.
Agora, a meio da vida, somos nós, também, que começamos a (saber) viver.


quinta-feira, 28 de março de 2013

T ZERO PARA BEBÉS


Hoje fui visitar o meu bebé!
Lá estava ele, envolvido no pequeno mundinho dele, como se aquilo fosse... toda a existência possível e imaginável!
Lá estava ele, entretido a dar pontapés e a esbracejar e a esconder a cara, tudo, como se só ele dominasse a existência da vida centrada na minúscula barriga da mãe e canalizada apenas e só pelo cordão umbilical que o liga à mãe e a tudo o que nos rodeia.

Do lado de fora, o de cá, via-mo-lo embasbacados, como se nada mais existisse à volta, nem problemas, nem trânsito, nem ruído... apenas aquele bebé ali dentro, num minúsculo T0 que ocupa à vista de um ecógrafo que se reflecte num monitor que não tem, sequer, 100 polegadas, mas que para aquele bebé, o meu, parece tratar-se de um mundo inteiro e só dele! Um porto de abrigo. (...)

E nós, do lado de cá, embasbacados, ainda como se nada mais existisse à volta, sorriamos sem sentido ao ouvir a médica tecer comentários e palavras dirigidas ao bebé como se ela fizesse os comentários mais hilariantes no momento, quando, na verdade, a graça, essa, era toda e só para esse bebé que aí vem.
Ainda que de forma estranha e a requerer treino e hábito, a associação "o papá" ou "o pai do bebé", vai ganhando cada vez mais espaço de afirmação, afinal, de facto, está mesmo para acontecer!!

Hoje fui visitar o meu bebé e a páginas tantas, numa ampliação do rostinho dele para que a mãe o visse e percebesse a forma da boca, o bebé, manifestou-se e pelo movimento dos lábios, pareceu dizer... "papá"! Delírio? Talvez, mas a opinião foi partilhada e discutida entre "papá" e, eventualmente, "papa", apenas... mas nada me vai convencer que em vez de ficar feliz por me ter ali, à vista ampliada, ele, o bebé, apenas se lembrasse de querer comer, quando tem todo o alimento bem ali, na barriga da mãe, no T0 mais confortável que poderia desejar ter!

Sim, é apenas "o bebé", sem importar que seja menino ou menina. E para ser "apenas o bebé", foi preciso vencer a moda e as tendências a quem teimosa e estoicamente - para os dias que correm -, vergámos com a convicta afirmação de que não queríamos saber o sexo para, no fundo, saborearmos mais e melhor a surpresa do nascimento.

Hoje, com vinte semanas, fui visitar o meu bebé a quem  já se notam as formas perfeitas de gente que se forma e ganha vida a cada dia que passa...!

terça-feira, 12 de março de 2013

BENTO XVI: PAPA, PAPISTA OU PAPÃO?

"...já não me apetece ser Papa!"
Não posso deixar de desconfiar. Não posso!
Vivo num país onde tudo se questiona e nada é o que parece ou quem parece ser. Seguindo esta lógica só posso, tenho esse direito, questionar esta estranha "demissão Papal"...
 Ora... se o tipo é mais do que um Rei, é a representação oficial de Deus na Terra, tem milhões de seguidores e... de repente, assim do nada, desiste? Mais, não diz que vai desistir, simplesmente informa que acabou, quase da noite para o dia, simplesmente, acabou! Também não se deu a grandes explicações; confirmou que não estava doente, já deu algumas provas de que não está senil e que fisicamente até está capaz de se manter... mas... desiste. Simplesmente assim: "puf"! "Hoje acordei e já não quero ser Papa!"

O cenário é tanto mais bizarro se atendermos ao facto de este Papa suceder a um outro que mais parecia português, colado que estava ao cargo que assumia, mas que mesmo doente, antes disso, baleado inclusive, e que morreu Papa e servo da Igreja, afinal, o ponto mais alto da vida de um Homem que se entrega a Deus.

Em tudo e com tudo isto me faz mais confusão ainda, aceitar, apenas, que Bento XVI ou Joseph Ratzinger, como se prefira, depois de "tocar" o Céu dos Homens, ser Deus na Terra, simplesmente... desista!?
E não, não engulo essa ideia de que faz parte dos votos que um dia terá feito de saber abdicar e ser desprendido de todos e quaisquer bens materiais porque também me recordo de ele ter vendido o VW Carocha que tinha como viatura antes de ser Papa e o carro na altura ter sido mais valorizado por ser do "novo Papa"...

Aliás, com a história do Conclave que vai levar à nomeação do mais um Papa ainda antes da Páscoa - provavelmente já amanhã -, está a ser desviada toda a atenção e esclarecimentos sobre a decisão de Bento XVI... O mundo ouve todos os dias falar da nomeação do novo Papa, mas ainda ninguém soube ao certo porque razão Bento XVI anunciou, renunciou e saiu de cena em apenas... 17 dias.

Saudação... Nazi ou Cristã?
Sou de Portugal, este cantinho à beira-mar (onde se calhar ainda veremos o agora Papa Emérito trocar os luxos de Castel Gandolfo pelas Termas do Luso ou do Gerês, que dizem ser boas para o reumático...) e como português sei que só posso acreditar em 2% do que ouço e 3% do que vejo nas notícias; 80% é falso ou fantasiado e os restantes 15% fazem parte do imaginário.

Nesta natural condição de descrença e desencanto com as figuras públicas que outrora seriam exemplos para todos nós, tenho então o natural direito de questionar esta decisão súbita deste senhor que abdicou de ser Rei dos reis.

Num conjunto de teorias, acredito, isso sim, que houve algo do passado dele que surgiu e foi colocado em causa. Algo que a ser revelado certamente viria a abalar a estrutura da Igreja, mais do que a ele próprio, o Papa. O pior de tudo é que essa verdade escondida vai ficar guardada e só daqui a muitos anos será do domínio público.

Mais um segredo da Igreja
Mas... o que foi que ele fez? Qual será a chantagem que o obrigou a renunciar?
A Igreja, todos sabemos, é especialista em segredos, crimes, subornos, intrigas e toda a espécie de jogadas sujas que possamos imaginar, por isso mesmo não é fácil enquadrar o cenário em que Joseph Ratzinger terá estado envolvido.
 Ou... - epá! Isso é ainda pior!! - ou terá mesmo sido Bento XVI quem se envolveu em algo que não deveria?

Sexo? Drogas? Pedofilia? Não.
Tem de ser algo maior. Bem maior!
Por sexo e pedofilia já a Igreja se habituou a responder e evitar todas as provas e acusações.
Por drogas até seria divertido, mas não seria grande novidade se fosse algo que Ratzinger tivesse experimentado em 1969.
 Mas já o que ele possa ter feito pelos anos entre 1939... a 1944... já isso... me deixa mais curioso...
Sim, ou não se sabe que Bento XVI foi a máscara que Joseph Ratzinger, um militante do regime Nazi de Hitler, escolheu para usar enquanto infiltrado no Vaticano?
A versão conhecida é de que ele desertou do exército alemão e terá depois abraçado a Igreja...
A versão conhecida nega que o agora Papa Emérito tenha participado no extermínio de milhões de judeus, a principal marca deixada pelo regime de Adolf Hitler durante a II Guerra Mundial...
As versões conhecidas levam a pensar num homem dedicado a Deus, mas... e a versão escondida?
De que nos relatará esse outro lado da história?
Quem é afinal e que segredos carrega Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI?

domingo, 17 de fevereiro de 2013

ELAS NÃO PERDEM PELA DEMORA!

As "maquiavélicas" dominadoras do meu lar
Naquele que é o meu pequeno "harém" e simultaneamente o meu núcleo familiar, a cada dia que passa me sinto cada vez mais tentado em reforçar para equilibrar, o meu lado, pois isto de se estar rodeado de "meninas", já não é o que era... para os árabes!

Ainda que a génese da questão dominadora e a referência masculina se mantenham a meu cargo, na verdade falta a restante cumplicidade e partilha apenas possível entre... dois machos.

Em casa, a união feminina é muito vincada todos os dias com as sonecas, e as novelas, a obsessão pela cozinha e pela vaidade, pela fineza e pelos bons modos... mas... depois, falta a provocação, a malandrice, a paródia, a falta de modos, enfim, o machismo em geral! E é disso que me queixo! É disso que estou a sentir falta, mas é disso que já estou a tratar!...

Ou seja, baralhando e simplificando tudo isto: quem são, afinal as personagens do meu harém? As "maquiavélicas" dominadoras do meu lar??

Hum... antes disso, dizer que já bastando uma, também não são duas, nem mesmo três, nem são quatro: mas cinco!  Cinco terríveis e castradoras do espaço masculino, da rebeldia e da palhaçada!

Uma-a-uma, vou descrevê-las aqui e revelar o meu plano para azucriná-las até equilibrar as coisas:

Cristina
1 - A Cristina
Também mandona e rabugenta, tem o condão de influenciar as outras com as crises femininas. Aquele sorriso largo e lindo que usa para me hipnotizar tem resultados incrivelmente dissuasores que acabam por desarmar qualquer intenção de contrariar a união enquanto eu estiver sozinho nesta cruzada.
Mas não perde pela demora: em breve nascerá um demónio de dentro dela gerado por mim. Se for rapaz... passamos a ser dois e prometemos retaliar. Se for menina... ainda que venha reforçar a união garanto que será um verdadeiro "demónio" de saias!!
Não perde pela demora!

Yuca
2 - A Yuca
Dominadora. Irreverente. Independente.
Uma verdadeira loba com um verdadeiro feitio-de-cão e tanto lhe dá para estar muito sociável e companheira, como, de repente, lhe dá para estar solitária e não passar cartão a ninguém. Uma verdadeira "melga" que exige a atenção toda e obriga que a mimem. Não aceita um meio-termo: ou tudo, ou nada! E quase sempre: tudo!
Para ela, a minha vingança vai passar por obrigá-la a passar muito tempo com o bebé e aprender a partilhar os mimos... Não perde pela demora!


Judie
3 - A Judie
A mais séria. A lady. A mais surpreendente, diria mesmo: a "intelectual" do quinteto. Faz as coisas pela calada, convence-me sempre de que é uma coisa e... quando menos se espera... faz outra. É muito atenciosa e meiga. Trata toda a gente bem e está sempre muito atenta à irmã, mas é de uma teimosia...! Ou... talvez, seja só um reflexo do passar dos anos e já comece a evidenciar alguns sinais de velhice. Esse tremendo feitio dela... vou contrariar... com o meu plano B: a chegada de um novo cachorro em breve, que as vai atazanar a todas!! Ah pois não, não perde pela demora!


Gipsy
4 - A Gipsy
Trapalhona. Matulona. Dançarina. Nervosa. Adora abanar o rabo e tem mesmo alguns tiques da Shakira. É de uma tal delicadeza que quando se fala para ela fica nervosa e ansiosa. Rapidamente se entrega à submissão e quando está a receber mais atenção entrega-se toda, de alma e coração, de barriga para o ar. Vaidosa, está sempre a abanar o bundão, seja a caminhar, seja para "dançar" ao ritmo do próprio nome. Muito apaparicada pela irmã, acaba por se tornar ciumenta em relação a ela e interfere sempre que a vê mais descontraída, como acontecia com o Yankie. Não perde pela demora para ver o meu plano B em acção!...

Daisy
5 - A Daisy
É a mais nova de todas, mas carrega no olhar uma estranha tristeza que se assemelha a um sol que nunca brilha mesmo em dias limpos de nuvens no céu. Mais do que às outras, a quem espero azucrinar profundamente com o meu plano B, a ela acredito que o novo cachorrinho e o futuro bebé vão mesmo contribuir para arrebitar e ajudar a libertar essa luz viva, intensa e quente desse sol que ela mesma esconde. Com ela o efeito será mais terapêutico do que provocatório e espero que resulte porque é mesmo preciso despertar a juventude dela que contrabalança com a a dezena de anos de todas as outras. Esses teus dias de melancolia, não sabes, mas vais esquecer em breve! Não perdes pela demora!

O bebé
Ecografia 3 meses
Ainda que me veja rodeado por elas e nem saiba o que vem pela frente, se mais "elas" ou se alguns "eles" para equilibrar as coisas comigo, a verdade é que tanto me faz, desde que sejamos todos mais felizes.
Esse bebé que agora vai chegar será muito amado e muito cuidado.
Se for menino... se for menino vai poder jogar à bola e vestir a combinar comigo, como se de irmãos gémeos se tratasse! Se for menina... se for menina, com os olhos da mãe e com longos caracóis em forma de canudos no cabelo... ainda que com um jeito muito feminino... não tem de deixar de jogar à bola na mesma!!
Por outro lado, o cachorrinho que entrar agora nas nossas vidas, seja macho ou fêmea, vem para agitar as vidas cá em casa, mas vem, também, para crescer com o bebé e tornar-se desde cedo, numa referência para o nosso filho. A primeira grande amizade!
Cá os espero, meus reforços, e mesmo sem saberem, elas não perdem pela demora!