Filme original na versão japonesa onde figuram as personagens que retratam Hidesaburõ Ueno e Hachikõ |
Será tarefa igualmente impossível poder relatar os factos sem ilustrar com verdades absolutas que vão acabar por evocar a ganância do homem, os valores da fidelidade e o amor incondicional.
Como poderei contar esta história sem que as lágrimas, a saudade, o vazio da perda se percebam e se reflictam nas palavras que vier a escolher?
A simples tarefa de agora escrever e partilhar algo sobre esta história, é, por si só, um dever de cidadania e de humanismo. Pode ser interpretado como um gesto de amor, mas, também, de revolta...
Amizade sem igual num amor incondicional e sem interesse |
Quando finalmente morreu, o cão teria 12 anos de idade e terá adormecido exactamente na mesma Praça onde durante nove anos esperou o regresso do dono. Na versão romanceada do filme, podemos testemunhar e viver a emoção do reencontro que finalmente acontece após a morte, num cenário de Paz e tranquilidade eternas.
Mas o filme é mais do que isto.
O filme coloca a nu a verdadeira e incomparável amizade entre o Cão e o Homem. Aliás, o filme acaba por deixar perceber como todos os outros: a mulher, a filha, os amigos... do homem seguiram com as vidas que tinham... e como só o cão, só o Hachiko não foi capaz de retomar a vida que tinha. Sofreu a perda e esperou... até à própria morte.
Estátua de bronze de Hachikõ em Shibuya |
Para mim, que tenho tido uma vida de amores (bons e maus), faz sentido admitir que amo acima de tudo, os meus cães e as mulheres. Mas por esta ordem. Não outra! E não, não há qualquer engano ou demagogia no que acabo de admitir.
Na vida, os amores que temos, mesmo os que pareçam eternos, podem acabar. Os melhores amigos, deixam de sê-lo. Até uma relação familiar entre pais e filhos ou irmãos... arrefece e voltam-se costas uns aos outros... Mas o nosso cão... o nosso verdadeiro Amigo e Companheiro... esse jamais nos deixa! Por ele voltamos para casa mais cedo. Só ele nos recebe de cada vez com a mesma festa e com o mesmo entusiasmo. Tenhamos saído de casa 8 horas ou 8 minutos antes, a festa é a mesma!
Quem, alguma vez, teve um amor que aquando do regresso a casa pulasse de alegria pelo reencontro e gritasse aos vizinhos que estávamos em casa ao mesmo tempo que nos enchesse de beijos e carícias por estarmos de volta? Quem?? Quem, na perspectiva de alguma vez ter tido tudo isto, o teve de facto sem ter sido porque tivesse... um cão?...
De volta à história de Hachiko, este nasceu em 1923 e se no filme ele "escolhe" o dono, a verdade é que ele foi deslocado da província de Akita - que, afinal, dá o nome à raça - para ter ido viver com um professor da universidade de Tóquio, Hidesaburõ Ueno, numa pequena cidade ferroviária chamada Shibuya e é aí, numa pequena praça em frente à estação que ainda hoje figura uma estátua de bronze em memória e honra de Hachiko. A estátua, por sua vez, foi esculpida por Teru Ando e ali colocada em Abril de 1934, mesmo em frente à bilheteira.
Um ano depois, em Março de 1935, com 12 anos de idade, Hachiko foi encontrado "adormecido" aos pés da estátua, perpetuando assim a imagem da espera eterna (há relatos diferentes que dizem que Hachiko terá morrido numa rua lateral à estação).
Quando morreu a notícia foi estampada em todos os principais jornais do Japão. Foi decretado um dia de luto pela espera que durou 9 anos e 10 meses. Ainda hoje, 76 anos depois, a 8 de Abril os japoneses assinalam a data e realizam na pequena Praça de Shibuya uma cerimónia em homenagem ao cão fiel.
Um dos momentos de reencontro após mais um dia de trabalho |
Outra curiosidade ainda maior poderá prender-se com o aproveitamento propagandista que o Governo nipónico terá feito da história de Hachiko. Os Akitas são conhecidos por serem cães muito fieis e verdadeiros admiradores de quem cuida deles. Este zelo é testemunhado por inúmeros relatos de cães que terão dado a vida pelos donos e por isso mesmo foram considerados Património Nacional, em meados de 1940, tendo estado proibida a venda destes cães durante muitos anos. Mas o "aproveitamento" que houve está associado ao facto de os militares terem "usurpado" o carácter dos Akita, inspirado em Hachiko, para motivar os soldados japoneses de que nada podia impedir a determinação e paixão (ou fanatismo) com que estes defenderiam o País, primeiro na guerra Sino-Japonesa, depois na II Guerra Mundial quando atacaram Pearl Harbor.
O cão simbolizava isso mesmo, um ícone nacionalista e ainda hoje a história de Hachiko é ensinada por pais e educadores nas escolas. Importante referir que o Japão, o "país do sol nascente" adorava todas as figuras do sol e "Akita" representa um deus-sol que vive entre os homens...
Corpo empalhado |
Ainda hoje, se um proprietário não tiver condições financeiras para manter um Akita, o governo assume a guarda total do animal.
Hachikõ significa "número oito" em japonês, por isso a minha publicação hoje, dia 8, como uma homenagem ao Cão e a todos os cães que vivem ou viveram reconhecidos pelo valor que mede o sentimento e o amor entre eles e nós, os "amigos" deles.
O filme, aqui mostrado em 6 minutos...
Não tendo a tua carga emocional, também me emocionei a ler e depois a ver o filme, mesmo que contado em 6 minutos (foi muito bem compactado). Tu e o Yiuri mudaram a minha forma de ver e tratar os animais.
ResponderEliminarÉ extraordinário como te retratas....
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