terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Yiuri meu Amigo meu Companheiro


Maio 2007: Yiuri DES | Yiuri De Emílio Silva
“AMIGO é aquele que não tem rosto, tem sentimento.
AMIGO é aquele que não tem raça, tem coração.
AMIGO é aquele que não tem hora, pois todas as horas são horas.
 AMIGO não tem alma, tem elevação.
 AMIGO é sempre AMIGO, seja animal, real ou virtual”

Têm-me faltado as palavras.
Tem-me faltado a coragem.
Sobram, isso sim, as saudades que tenho dele...
Abunda em mim uma imensa tristeza e um vazio que não sei ainda como superar.
Choro... Rio...
Emocionam-me momentos bons e momentos menos bons que me vêm à memória e que foram marcados pela vida que partilhámos ao longo de 13 anos.
Algures sobre o Rio Sado em 2006
Não tive, até agora, na vida que tenho, qualquer relação constante e diária que tivesse durado tanto tempo. Nem amigos ou amigas, nem amores, nem família. Tive o Yiuri!...
O Yiuri foi meu Cão, meu Amigo, meu Irmão, meu Filho.
Era, como eu carinhosamente o tratava, "o Cão-do-dono", o meu menino.
Morreu.
Como choro neste momento!...
Como me dói e magoa assumir o que agora estou a escrever...
Nunca mais vou estar com ele!...
Nunca mais vou poder ver aquela expressão que ele fazia quando lhe dizia "este cão é muito lindo! É o cão-do-dono, não é?".
Era vaidoso. Era meigo. Era o meu cão...
Todas as semanas, ao sábado, àquela mesma hora (13h25) em que ele suspirou pela última vez, tenho feito um minuto por ele. Nesse minuto revejo-o ali, deitado.
Tenho de manter os olhos fechados para poder ver-me a tocar-lhe no pelo macio e sedoso.
Tento sentir o cheiro dele nas coisas dele, mas está a desaparecer com as imagens que guardo na memória referentes a esses últimos momentos.
Ele estava deitado na cozinha, na caminha dele. Entrei pela porta da sala e ouvi um engasgo. Olhei para ele e vi-o afastar a cabeça para trás e olhar para mim. Percebi que não estava bem. Corri para ele. Chamei por ele. Os lábios e o queixo estavam roxos. Estava a sufocar. Não sei porquê mas pensei em dar-lhe água. Peguei na seringa e coloquei-a na boca para que bebesse. Deixei que caíssem dois pingos e confirmei de imediato que ele já não estava a respirar.
Primeiro fiquei sereno a olhar para ele.
2008: Momento de ternura
Passei os dedos pelo pêlo dele e compreendi que ali terminava o sofrimento dos últimos dias.
Depois percebi que estava morto e que não mais voltava a ouvir-me.
A seguir dei conta da violência do que estava a acontecer: a nossa história estava a ser rasgada!
O Yiuri nasceu a 26 de Maio de 1997.
Chegou a mim no dia 17 de Julho desse ano, tinha 51 dias de vida.
Quando morreu, nesse dia 27 de Novembro de 2010, estava com 13 anos, seis meses e um dia.
Não me importa que digam que teve uma vida longa e preenchida.
Não me importa que digam que é a ordem natural da vida.
Nada mais me importa a não ser o facto de sentir muito a falta dele... Nem chega a fazer sentido ter os outros cães que tenho, não tendo o Yiuri para comandar o grupo.
2004: Activo e vigilante
Cuidei dele todos estes anos e quando morreu tive de assegurar que trataria dele também naquela última hora.
Assim o fiz. Estava sozinho em casa. Chorava e tentava tratar dele. Levantá-lo para poder trocar os resguardos que tinha na cama, foi... não tenho palavras para descrever... O corpo dele não fazia sentido, parecia apenas um tecido mole que se dobrava em partes diferentes. Levantava-lhe a cabeça e o resto do corpo não acompanhava... Foi.... não sei explicar.
Lavei-o cuidadosamente com água morna. Escovei-o. Escolhi uma coleira para ele. Deitei-o numa cama limpa. Deixei-me ficar ali, com ele. Chorava-o, apenas. Resolvi partilhar o que acontecera com os restantes cães pois estavam demasiado calmos, como que a perceber que algo não estava bem. Abri a porta da cozinha para que entrassem. Mostraram-se agitados e nervosos. Olhavam sem chegar muito perto. Apenas o Yankie finalmente se aproximou. E ficou.
Tinham passado duas ou três horas. O telefone tocou e finalmente partilhei o que tinha acontecido...
Movi o que pude e o que não sabia que estava a mover para assegurar um lugar digno para fazer um enterro. Acabámos, eu e o Yiuri, por promover a criação de um cemitério para animais., onde ele está agora. Contratei uma agência funerária para que lhe fizesse a urna e o enterro. Garanti que ele seria tão digno na morte como sempre o foi em vida.
2009: Medas
Com o Yiuri morreu uma parte de mim, mas se estivesse nas minhas mãos dar-lhe a minha vida pela dele, eu fazia a troca, sem hesitar. Aliás, sempre acreditei que eu morreria primeiro do que ele, porque eu sim, às vezes, acho que perco o interesse por esta vida de circunstância que levamos, e o único consolo que tenho por ter ficado para depois dele, assenta unicamente no facto de assim ter garantido que ele seria bem tratado e acompanhado até ao fim...
Que se danem os que não compreendam!
Que se danem os que se encham de ternura!
Para mim e só para mim, esta é uma história sem final feliz.
Morreu o meu Maior e Melhor Amigo.
Entre nós nunca houve desconfiança, traição ou rancor.
Houve respeito. Houve amor. Houve partilha. Houve companheirismo.
Juntos, corremos o mundo.
Com o Yiuri morreu uma parte de mim
Juntos, fizemos conquistas na vida.
Juntos, caímos e voltámos a erguer-nos.
Juntos, passámos os últimos 13 anos de vida...
E agora, Yiuri? E agora, quem vai secar-me as lágrimas que me rolam pela face?
Uma vez, num dos jornais onde trabalhei, escrevi um artigo sobre os meus cães, sobre o Yiuri e a Niki e nesse artigo eu defendia que na vida as relações entre as pessoas, sejam amantes, amigos ou mesmo a família, passam por momentos de conflito e que tantas vezes desistem uns dos outros e se trocam e anulam entre si, mas que com os nossos cães isso nunca acontece do lado deles. Nesse mesmo artigo eu terminava com uma pergunta que mantenho: que os cães são o melhor amigo do homem, todos sabemos; e do cão, quem é o melhor amigo?..
Estou mais calmo neste momento.
2004: Sorriso de orelha a orelha
Já não choro. Apenas me dói a cabeça.
Voltarei a escrever algumas crónicas sobre a vida que partilhámos. Momentos divertidos, imortalizados nas lembranças que o baú das memórias vier a trazer ao de cima.
Embora pesem muito as recordações mais recentes e que se relacionam com a dor da doença e da velhice, temos também muitas histórias boas que foram vividas no pleno da nossa amizade e juventude e que aqui vou partilhar sempre que possa. Com isso, além de poder enfrentar as saudades dele, também estarei a cravar em palavras o que a memória amanhã poderá querer levar...
Adeus meu menino.
Adeus Cão-do-dono, lindo!...







3 comentários:

  1. Milito
    Imagino como te sentes, ainda tentei contactar varias vezes para varios telefones, mas nao, estavas magoado eu compreendi, uma dia com mais calma te ligo, deixo te com a dor a saudade que é muita eu entendo, depois falaremos
    Um abraço muitos bejinhos e paz na alma do Yuri

    PS gostei muito deste relato

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  2. Milito

    Partilhei este excelente relato emocionado para o meu Facebook
    bjos

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  3. Olá Emilio...
    Não tenho muitas palavras para te dizer, pois sei que estas a passar um momento muito dificil na tua vida, mas mesmo assim tens de ter Força e Coragem de seguires em frente e levantar a cabeça, faz-lo por ELE pois de certeza que ELE te quer ver bem..
    " Por muito longa que seja a noite , o Sol volta sempre a Brilhar", Acredita nisso, Paz para o YIURI...
    Um beijinho e um abraco de conforto...

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