Hoje ouvi alguém dizer: "se o recibo a mim não fizer falta, nem o peço! Antes prefiro ser roubado pelo outro que, como eu, está a trabalhar do que por
esses Relvas e Gaspares".
Não é grave.
Aliás, não é rigorosamente nada grave o que este senhor dizia, porque como ele, estamos todos nós, que trabalhamos, que fazemos planos e projectos para uma vida e que depois, por uma qualquer crise ou nova lei, acabamos roubados por um Governo que apenas e só governa os próprios interesses.
Desde que teve inicio esta tão badalada crise que a todos tem vindo a afectar, em 2008, diz-se que a chamada "economia paralela" terá crescido em 3%. Quatro anos depois e com tantas tomadas de posição carregadas de austeridade, com um novo Orçamento de Estado aprovado apenas e só por cobardes e vira-casacas [como são neste momento os militantes do CDS-PP que hoje estão na coligação que faz maioria no Governo, mas que amanhã, quando mudar a direcção do sol e do vento, já estarão em guerra com o mesmo PSD liderado por Passos Coelho], e com o país mesmo à beira de... um ataque de nervos, quem, podendo, é que vai evitar essa economia paralela se esta for a única via de continuar a haver algum dinheiro no bolso? Claro que vamos assistir a uma escalada nessa economia paralela!
Mais, se por "economia paralela" se define a actividade dos cafés e restaurantes, cabeleireiros e oficinas a quem por um qualquer pagamento se deve exigir uma factura/recibo - provavelmente porque a estes será mais fácil controlar e inspeccionar para depois penalizar -, então... penso para mim... e essa economia paralela que envolve milhões de euros e que nunca são inspeccionados nem fiscalizados porque são "geridos" por governantes a quem se desconhecem quaisquer provas dadas no mundo profissional e, no entanto, lhes é confiada a missão de gerir o nosso dinheiro, o nosso património e, agora, até os nossos sonhos? Quem, afinal, é que vai esclarecer e penalizar (e como?) um tal de Paulo Portas que comprou submarinos com o meu dinheiro e o dinheiro dos meus vizinhos e amigos? Quem, afinal, vai intimar o senhor Passos Coelho a responder perante os portugueses quando ele mesmo em pleno Parlamento defendeu que o Orçamento tinha de ser aprovado e que depois se fariam as devidas alterações. Então... o comportamento deste Primeiro-dos-inergúmenos-ministros indicia apenas que nem ele acredita no Orçamento que apresentou para 2013, certo? Posto isto, retomo: e quem fiscaliza? E quem penaliza? Pois... Pois é.
Acredito que a minha revolta não estará como a verdade política a que temos assistido na última década e que assim, não morrerá sozinha, nem solteira.
Acredito que tal como o deputado madeirense Rui Barreto (um desconhecido, no fundo) que a par de toda a oposição ao Governo foi o único com tomates para violar a disciplina de voto do partido que representa (o CDS-PP) e assim desrespeitar o
acordo de coligação PSD/CDS-PP, que obriga os dois partidos a votar
solidariamente os Orçamentos do Estado, e votou contra, acredito, dizia eu, que tal como este homem fez, também a população, os meus vizinhos, os meus amigos, os meus conhecidos na papelaria ou no café, os meus colegas de trabalho, o meu médico, o meu dentista... enfim, todos nós, também vamos acabar por dar um murro na mesa, gritar bem alto BASTA!!! e sair à rua, pegar em armas, derrubar este governo e qualquer outro governo de aldrabões e de ladrões.
Até quando vamos andar de cara amarrada e a pisar torto porque todos esses nossos governantes não passam de nossos desafectos?
Notícia da Agência Lusa (31-10-2012):
[natural destaque para a reacção do todo-poderoso e "machão" Paulo Portas]
"Dentro do CDS-PP, tem havido várias vozes críticas da proposta de
Orçamento para 2013, sendo José Manuel Rodrigues a mais destacada.
A meio deste mês, este dirigente centrista, que recentemente
suspendeu o seu lugar de deputado e foi substituído por Rui Barreto,
defendeu que, se a proposta de Orçamento não fosse alterada, o seu
partido deveria chumbá-la e assumir a abertura de uma crise política.
No domingo passado, José Manuel Rodrigues anunciou que o deputado
Rui Barreto tinha indicação do CDS-PP da Madeira para votar contra a
proposta do Governo e, na mesma ocasião, anunciou a sua demissão do
cargo de vice-presidente da Comissão Política Nacional do CDS-PP.
O presidente do CDS-PP, Paulo Portas, afirmou hoje aos jornalistas,
no parlamento, que os estatutos do partido preveem que haja
"consequências" para quem desrespeitar a disciplina de voto em relação
ao Orçamento do Estado.
Paulo Portas sublinhou que os estatutos do CDS-PP estabelecem "que a
responsabilidade pelo sentido de voto num Orçamento do Estado que é
nacional é uma responsabilidade da direção nacional do partido".
Até hoje, a única reação oficial do CDS-PP sobre este assunto tinha
vindo da direção da bancada centrista que, em comunicado, admitiu a
abertura de um procedimento disciplinar aos deputados que
desrespeitassem o sentido de voto do partido".
- de cara amarrada: amuados
- a pisar torto: a coxear
- nossos desafectos: nossos inimigos