terça-feira, 20 de novembro de 2012

KIMBA O BICHO-PAPÃO

"... já seguro de que mal nenhum aconteceria por estar junto de mim ..."

Uma das histórias que guardo e até recordo com um sorriso quando penso no Yiuri é a do Kimba, um cão da raça malamute que o assustava como a uma criança a quem se anuncia a chegada do "bicho-papão" quando não quer comer a sopa ou se recusa ir para a cama.
Com o Yiuri era a mesma coisa: quando ele andava solto a fazer o "passeio higiénico" e nunca mais se decidia entrar em casa ou fazia "ouvidos de mercador" quando o chamava, bastava que a seguir eu acrescentasse "olha o Kimba", ou "o Kimba vem aí!", que ele, rapidamente, se apressava a entrar e ficava depois, a olhar pelo vidro à espera de ver o Kimba do lado de fora.
É claro que a maior parte das vezes não havia Kimba nenhum por perto, tal como o bicho-papão, que também não existe!

Tudo isto começou porque os dois cruzavam-se algumas vezes na rua.
O Kimba, como malamute macho era um cão corpulento e... enoooorme (!!!) quando comparado com o Yiuri, um husky de médio porte.

A maior parte das vezes limitavam-se a cheirar um ao outro e sem que qualquer deles desse parte fraca, lá se afastavam, com o pêlo eriçado e com a vaidade que os caracterizava, intocável. Mas lá terá havido um dia em que o inevitável confronto, qual medição de forças e prova de machismo pela defesa do território, aconteceu e, inevitavelmente, o Kimba saiu por cima.
 Depois disso passou a ser mais difícil controlar os dois porque um estava certo de que era o mais forte e o outro, apesar de tudo, queria estar à altura de um dia ter a sorte de sair por cima, o que nunca aconteceu nas duas ou três vezes em que mediram forças.

O Yiuri fugia do bicho-papão
O que é certo é que o Yiuri sempre foi de perceber rápida e facilmente as coisas e sabendo disso também eu fui capaz de tirar partido dessa situação e então, sempre que ele estava na rua e não se mostrava muito interessado em regressar, aproximava-me da porta de entrada, abria-a e juntava: "vamos embora Yiuri, vem aí o Kimba!" Ele, de cabeça levantada e a espreitar entre os carros estacionados, vinha então para casa com um passo mais acelerado e, só depois de entrar, já seguro de que mal nenhum aconteceria (por estar junto de mim), fixava-se na porta a espreitar de onde e quando surgiria o terrível Kimba!
Mesmo depois de o Kimba ter morrido ele continuava a reagir ao estímulo e dizendo eu "Yiuri, olha o Kimba!" ele agia sempre de modo a chegar-se mais perto de mim para que eu sim, o protegesse de qualquer mal.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

DE CARA AMARRADA

Hoje ouvi alguém dizer: "se o recibo a mim não fizer falta, nem o peço! Antes prefiro ser roubado pelo outro que, como eu, está a trabalhar do que por esses Relvas e Gaspares".

Não é grave.
Aliás, não é rigorosamente nada grave o que este senhor dizia, porque como ele, estamos todos nós, que trabalhamos, que fazemos planos e projectos para uma vida e que depois, por uma qualquer crise ou nova lei, acabamos roubados por um Governo que apenas e só governa os próprios interesses.

Desde que teve inicio esta tão badalada crise que a todos tem vindo a afectar, em 2008, diz-se que a chamada "economia paralela" terá crescido em 3%. Quatro anos depois e com tantas tomadas de posição carregadas de austeridade, com um novo Orçamento de Estado aprovado apenas e só por cobardes e vira-casacas [como são neste momento os militantes do CDS-PP que hoje estão na coligação que faz maioria no Governo, mas que amanhã, quando mudar a direcção do sol e do vento, já estarão em guerra com o mesmo PSD liderado por Passos Coelho], e com o país mesmo à beira de... um ataque de nervos, quem, podendo, é que vai evitar essa economia paralela se esta for a única via de continuar a haver algum dinheiro no bolso? Claro que vamos assistir a uma escalada nessa economia paralela!

Mais, se por "economia paralela" se define a actividade dos cafés e restaurantes, cabeleireiros e oficinas a quem por um qualquer pagamento se deve exigir uma factura/recibo - provavelmente porque a estes será mais fácil controlar e inspeccionar para depois penalizar -, então... penso para mim... e essa economia paralela que envolve milhões de euros e que nunca são inspeccionados nem fiscalizados porque são "geridos" por governantes a quem se desconhecem quaisquer provas dadas no mundo profissional e, no entanto, lhes é confiada a missão de gerir o nosso dinheiro, o nosso património e, agora, até os nossos sonhos? Quem, afinal, é que vai esclarecer e penalizar (e como?) um tal de Paulo Portas que comprou submarinos com o meu dinheiro e o dinheiro dos meus vizinhos e amigos? Quem, afinal, vai intimar o senhor Passos Coelho a responder perante os portugueses quando ele mesmo em pleno Parlamento defendeu que o Orçamento tinha de ser aprovado e que depois se fariam as devidas alterações. Então... o comportamento deste Primeiro-dos-inergúmenos-ministros indicia apenas que nem ele acredita no Orçamento que apresentou para 2013, certo? Posto isto, retomo: e quem fiscaliza? E quem penaliza? Pois... Pois é.

Acredito que a minha revolta não estará como a verdade política a que temos assistido na última década e que assim, não morrerá sozinha, nem solteira.

Acredito que tal como o deputado madeirense Rui Barreto (um desconhecido, no fundo) que a par de toda a oposição ao Governo foi o único com tomates para violar a disciplina de voto do partido que representa (o CDS-PP) e assim desrespeitar o acordo de coligação PSD/CDS-PP, que obriga os dois partidos a votar solidariamente os Orçamentos do Estado, e votou contra, acredito, dizia eu, que tal como este homem fez, também a população, os meus vizinhos, os meus amigos, os meus conhecidos na papelaria ou no café, os meus colegas de trabalho, o meu médico, o meu dentista... enfim, todos nós, também vamos acabar por dar um murro na mesa, gritar bem alto BASTA!!! e sair à rua, pegar em armas, derrubar este governo e qualquer outro governo de aldrabões e de ladrões.

Até quando vamos andar de cara amarrada e a pisar torto porque todos esses nossos governantes não passam de nossos desafectos?

Notícia da Agência Lusa (31-10-2012):
[natural destaque para a reacção do todo-poderoso e "machão" Paulo Portas]
"Dentro do CDS-PP, tem havido várias vozes críticas da proposta de Orçamento para 2013, sendo José Manuel Rodrigues a mais destacada.
A meio deste mês, este dirigente centrista, que recentemente suspendeu o seu lugar de deputado e foi substituído por Rui Barreto, defendeu que, se a proposta de Orçamento não fosse alterada, o seu partido deveria chumbá-la e assumir a abertura de uma crise política.
No domingo passado, José Manuel Rodrigues anunciou que o deputado Rui Barreto tinha indicação do CDS-PP da Madeira para votar contra a proposta do Governo e, na mesma ocasião, anunciou a sua demissão do cargo de vice-presidente da Comissão Política Nacional do CDS-PP.
O presidente do CDS-PP, Paulo Portas, afirmou hoje aos jornalistas, no parlamento, que os estatutos do partido preveem que haja "consequências" para quem desrespeitar a disciplina de voto em relação ao Orçamento do Estado.
Paulo Portas sublinhou que os estatutos do CDS-PP estabelecem "que a responsabilidade pelo sentido de voto num Orçamento do Estado que é nacional é uma responsabilidade da direção nacional do partido".
Até hoje, a única reação oficial do CDS-PP sobre este assunto tinha vindo da direção da bancada centrista que, em comunicado, admitiu a abertura de um procedimento disciplinar aos deputados que desrespeitassem o sentido de voto do partido".

- de cara amarrada: amuados
- a pisar torto: a coxear
- nossos desafectos: nossos inimigos