Faz alguns anos que estou a escrever um livro.
Comecei (e mantenho!) com muita determinação e sempre que posso trabalho no meu projecto com imensa expectativa de que um dia vou poder concluir a minha obra.
Gostava de poder ter mais tempo e de estar mais disponível para escrever, quer em termos de tempo, quer em termos mentais. Tenho a história toda na cabeça, sei como lá chegar, apenas me falta alguma paz de espírito... e tempo, claro!
"Chá Com Amendoim", é inspirado em factos verídicos e tudo o que depois é romanceado vem dar cor e forma a um conjunto de personagens que giram em torno de Francy, uma octogenária que aceita participar no programa de rádio de uma jovem e talentosa jornalista que assina uma rubrica intitulada "A Minha Vida Dava Um Livro". Tendo por base esta premissa, toda a história é vivida em dois tempos: o presente, com os 83 anos de Francy, e o passado, marcado entre experiências e amores e perdas que, afinal, marcam toda uma vida. Entre a manhã de uma quinta-feira e o domingo que vai resultar na emissão do programa, Francy vai reviver um sem-fim de memórias e recordações e com ela, com todas essas vivências, acredito que vou ser capaz de prender o interesse dos leitores de Chá Com Amendoim, da primeira à última página.
Bem sei que não é a mesma coisa, mas vou arriscar deixar aqui ficar uns pedacinhos da minha história e das minhas personagens para que possam ficar com o "gostinho" e, quem sabe, opinar alguma coisa a partir daqui... Espero que vos anime... e agrade. A mim, seguramente, fará um bem enorme saber o que acham destes trechos que lhes vou deixar...
- da página 38
"...(...) Depois, à medida que o tempo
avançou, e contrariamente à maioria de todos os namoros, a relação deles nunca
esmoreceu: dia após dia, continuavam sempre a viver como se o primeiro dia de namoro
nunca acabasse.
Ema abriu o e-mail que tinha como
assunto: “ESTAR AO TEU LADO… É TUDO QUE DESEJO!”.
Em sete parágrafos, Augusto
escrevera o que de mais puro e libertador lhe ia na alma e ela voltou a ler as
palavras dele:
“A
NOSSA VIDA CONJUNTA TEM APENAS A DURAÇÃO DE UM MÊS, TALVEZ, EM TERMOS DE TEMPO,
SEJA MUITO POUCO MAS A INTENSIDADE E A VONTADE COM QUE FOI VIVIDA, ULTRAPASSA A
BARREIRA DO TEMPO.
A
FORMA COMO EU TE AMO FOGE AOS PARÂMETROS NORMAIS QUE ESTABELECI AO LONGO DESTES
30 ANOS. TU PROVOCAS-ME EMOÇÕES COMPLETAMENTE “SEM NEXO”, LEVAS-ME A VIVER UMA
VIDA INCONSTANTE COM MUITOS MEDOS E RECEIOS, MAS DEPOIS, A TUA CAPACIDADE DE
ENCARAR O MUNDO, LEVA-ME A ESQUECER TUDO ISSO, E AÍ SIM, EU VIVO EM PAZ CONTIGO, SEM
NINGUÉM PARA INTERFERIR, SÓ NÓS OS DOIS NO NOSSO “MUNDO”!
AS
PESSOAS NORMALMENTE TRAÇAM-NOS O DESTINO NAS SUAS CABEÇAS E ESPERAM QUE NÓS
VIVAMOS ESSE “CAMINHO”, ESSA VIDA, SEM HAVER QUALQUER HIPÓTESE DE FUGA, SEM
TERMOS VONTADE DE MUDAR.
MAS
O QUE É A VIDA SEM A INCÓGNITA DO NOSSO FUTURO, SEM OS RECEIOS QUE NOS PROVOCAM
A ADRENALINA, SEM UM MOTIVO FORTE PARA NOS LEVANTARMOS TODOS OS DIAS E SORRIR
PARA O MUNDO, SEM O VERDADEIRO AMOR, AQUELE QUE NOS FAZ CHORAR E SORRIR AO
MESMO TEMPO?!
FOI
ESTA VONTADE DE VIVER EM LIBERDADE QUE ME LEVOU A AMAR-TE E ME LEVA A TER
VONTADE DE ESTAR AO TEU LADO TODOS OS DIAS QUE POSSAMOS TER E QUE NOS SEJAM
PERMITIDOS VIVER NESTA VIDA TERRENA…
ESTAR
A TEU LADO É TUDO QUE DESEJO!
COM
MUITO CARINHO E AMOR
DAQUELE
QUE TE AMA...
CÉSAR
AUGUSTO”
Terminou a leitura. Sorriu.
Largou o ar guardado no peito de forma profunda e demorada, sem mesmo ter
reparado que tinha estado a suster a respiração (...)..."
...(...)...
- da página 50
"...(...) Hoje estava particularmente
feminina: escolhera uma saia floreada, comprida, em tons de bege, mas que era
acentuada por linhas vermelhas, que acompanhou com uma blusa castanha que se
segurava com um laço atrás do pescoço. O colar de bijutaria tinha sido
oferecido por uma amiga que visitara o México e o adquirira no comércio
tradicional e era realçado por pedras pretas, castanhas e vermelhas envolvidas
num fio preto que apertava numa mola de cobre. Levava os pés destapados ao
calçar umas sandálias romanas que se atavam acima do tornozelo. Tinha perfeita
consciência de que o seu Imperador
não havia de resistir ao encanto natural que ela sabia fazer transbordar.
Como não encontrava solução para
a escolha que a mantinha presa em frente do espelho há largos minutos, acabou
por tomar uma decisão diferente: levaria duas pulseiras distintas e dois
brincos divergentes.
Prática, sem gastar muito tempo
nesse retoque, pegou em dois ganchos e segurou o cabelo para trás da orelha
direita, destapando-a e abrindo o rosto por completo para que nessa, colocasse
um brinco comprido, com três filamentos pendentes. Na outra, com um toque mais
discreto, mas suficientemente forte, como se ali marcasse toda a sua
personalidade resolveu colocar um brinco redondo vermelho-vivo, suficientemente
dominante embora pequeno.
Sorriu de si para o espelho ao
imaginar como seria recebida por César Augusto e, sem resistir a uma pontada de
vaidade, enquanto passava um tom rosado de batom pelos lábios e rodava sobre os
calcanhares para espreitar como se veria pelas costas, acabou por exclamar para
o vazio do quarto o que lhe ia na alma: “arrebatadora!”...(...)..."
...(...)...
Um dia... espero, numa banca perto de si...!