segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CARTA A ENTREGAR NO CÉU

"...o teu ar vaidoso e gabarolas com um sorriso de orelha-a-orelha..."

Foi tão rápido este intervalo de tempo que marca 1 ano desde a tua partida que quando as memórias me assaltam vejo ainda tudo tão claro e tão nitidamente... como se tivesse sido ontem. Como tal... ainda dói muito perceber que já não estás comigo...

Hoje fiquei a saber que o projecto arquitectónico da tua morada está concluído e que vão ser terminadas as obras para que finalmente te seja concedido esse descanso final. É apenas e só mais uma mudança.

Quando te visitei esta tarde e lá te deixei as flores que sei que te animam - e continuo a levar-te flores diferentes e com muitas cores, como gostavas quando andavas pelos campos a cheirar todas sempre com aquela tua imensa curiosidade! -, a tua imagem parecia diferente... Não sei explicar melhor, mas tanto me pareceste mais novo, como algo... cansado? Fiquei confuso, mas também animado porque me pareceste muito... presente.

Tenho tantas saudades tuas, meu Menino...!

Sabes concerteza que nunca te esquecerei e que jamais me importará saber o que os outros digam sobre a nossa Amizade eterna. Éramos mais do que isso, não éramos? Fomos sempre mais do que apenas Amigos. Pai e filho, talvez?!

Lamentarei para sempre não ter podido cumprir o requisito de poderes ter visto nascer e cuidar de um filho meu... Não houve tempo...!?
Em contrapartida, sorrio ao recordar o teu ar vaidoso e gabarolas de quando te nasceram as ninhadas do teu "cãosamento" com a Niki!... Seu parvo!! Com aquele sorriso de orelha-a-orelha!...

Tenho vindo a aprender a passar os meus dias sem ti e tenho aprendido a gostar dos outros "meninos" quase como te amei a ti, que foste o meu Menino e o Cão-do-dono-lindo.

Tanta coisa já mudou desde a tua partida... se soubesses...!
Aconteceram coisas menos boas e coisas mesmo más, mas também algumas positivas.
Estou de novo em mudanças... Sim, dessas que volta e meia testemunhaste e implicaram sempre um novo recomeço, novas pessoas, nova vida, nova energia...

Parece que sim, que é mesmo verdade: passamos a vida a desejar tantas coisas, mas depois, na verdade, o que mais valorizamos nem são as conquistas e as vitórias, mas as coisas que perdemos no caminho. 
E a ti... perdi-te de maneira forçada... mesmo depois de trilharmos juntos tantas estradas da vida, mas tu foste sempre excepção e foste sempre excepcional porque conseguiste ser sempre especial, sempre desejado, foste conquistado e foste um conquistador.

Por ti Yiuri... Para ti Cão-do-dono-lindo.
Com todo o meu amor...!

MEIA NOITE EM RIGA

Riga, a Cidade capital da Letónia em pleno coração das países Bálticos
O céu embora encoberto pela escuridão da noite, parecia carregado de uma espécie de luminosidade azulada que deixava perceber um certo encanto e encantamento. Estava assim naquela primeira noite, mas também nas seguintes, o que reforçava a ideia de que ali, qual País das Maravilhas, tudo era... mágico!

Frio!? Sim, os termómetros marcavam apenas 5º nessa meia-noite, mas nessa mesma manhã já haviam registado -5º e uns escassos +1,5 ao meio dia...

Frio?! Bem... nem para todos: a noite era de sexta-feira e talvez também por isso as ruas estavam repletas de gente que circulava ou se deixava ficar à porta de um qualquer bar entre risos e música, conversas e olhares directos e curiosos.

A páginas tantas, um tipo saído de um canto qualquer surgiu a oferecer "free hugs" e lá ia abraçando os transeuntes, fosse por brincadeira, fosse por carência afectiva, mas, mais do que isso, por reflexo claro e evidente da simpatia das gentes deste país do Leste.

A animação nas ruas foi uma constante e só mesmo os casos de roupas mais curtas (elas com vestidos e saias que mantinham as pernas destapadas ou eles com camisas de manga curta), pareciam assustar os mais "incautos" e tão agasalhados, como eu, de cachecol, luvas e casaco sobre uma camisola confortável.

Falando em saias, bem sei... impõe-se a questão: e as letãs?

Beeeeeeeemmmm...!!...
Parecem... Saídas directamente das revistas, todas elas (!!) (ok, não podem ser todas, nunca são, não é verdade?!, mas quase todas elas!!), podiam facilmente inscrever-se nos mais exigentes programas de beleza e discutir os primeiros lugares!
São lindas, tanto as loiras como as morenas!
E mais!, a percepção com que fiquei foi de que deve haver mais mulheres do que homens neste simpático país, pois elas surgem nas ruas aos pares ou em grupos de 3 numa proporção aproximada de 9 para 2 - e talvez esteja a ser generoso nesta avaliação!

Impõe-se aqui, sem dúvida, uma nova questão: pode o "paraíso" da beleza feminina ser assim tão... gelado?

He, he, he, he.
Lá estará aquela meia dúzia de criticas a aguçar comentários contra mim....!

A pedir ou a animar as ruas, mas sempre de forma alegre
Mas não precisam.
Não precisam porque, acreditem, apenas estarei a ser elogioso para com as lindíssimas mulheres que vi na Letónia. Serão maioritariamente letãs, é verdade (não confundir com "letais"!), mas, também, russas, bielorrussas, ucranianas... e que depois se fundem todas elas numa só espécie de mulheres, as mulheres do Leste, e que se distinguem pela beleza, pelos olhos claros e pele muito branquinha e de aspecto macio... Ah, claro, nada, entretanto, que as nossas portuguesas não tenham também!! Ora essa!

Ia alta a meia-noite em Riga, mas as surpresas continuavam a surgir; primeiro julguei que se tratava apenas de uma qualquer oportunidade de negócio, mas depois, rapidamente, percebi que não, e que ali estariam por rotina: por todo o lado podiam encontrar-se bancas de flores que aproveitavam a agitação na rua para fazer florir o negócio. Viam-se muitas pessoas a comprar flores, fosse porque nessa sexta-feira, em particular, se assinalava também o Dia do Armistício que marcava os 90 anos que entretanto já correram desde o final da I Grande Guerra, fosse apenas por graça e ou romantismo entre casais. A verdade é que o negócio floria e que as flores se apresentavam com aspecto fresco e muito colorido, mesmo àquela hora e com aquela baixa temperatura que, para mim, era fria.

Tal como qualquer grande cidade, Riga também tem pessoas as pedir esmolas nas ruas: houve um senhor que num inglês muito "russo", me abordou a pedir que o ajudasse a ele, que era um mendigo, como se identificou. A humildade com que se expressou e se assumiu e depois a forma verdadeiramente grata como recebeu com agrado as moedas que lhe dispensei, com um sorriso que me envolveu e com vénias e palavras... também me deixou perceber não só a sinceridade daquele homem, como quão diferentes formas pode ter a pobreza e as razões que levam as pessoas a pedir esmolas nas ruas... Não foi caso único aquele senhor e mais uma e outra vez que voltei a dar, qualquer que fosse o valor, qualquer que fosse a contribuição, era, de facto, uma ajuda que me levava a acreditar que estava mesmo a contribuir... para um sorriso e, talvez, para uma refeição.

Também não fui caso único nessa partilha e nesse agrado: vi mais pessoas que também davam, que também ajudavam e que muito provavelmente também estariam imbuídos pelo mesmo espírito que eu. Quando se dá apenas e só pelo prazer de se dar parece possível desenhar a forma de que falam os poetas e os líricos quando esboçam em palavras todas as fantasias que falam sobre "esse" tal Natal dos homens livres e que se celebra... sempre que o Homem quiser, independentemente do mês, do dia ou da Estação do ano...!


Para regressar... mas com companhia
 Riga, a capital mágica da Letónia, em pleno coração dos Bálticos, a cidade pela qual me apaixonei pela civilidade, pela tranquilidade, pela sensação de bem-estar que me proporcionou... voltou a fazer-me acreditar que de facto é possível...que cada um de nós... pode mesmo fazer a diferença!

Quando as sensações se fundem e dar ou receber passa a ser apenas uma etapa inesperada e descabida de interesse, tudo... faz mais sentido!

A cidade capital, Riga, é banhada pelo Rio Daugava que lhe dá um ar medieval, mas também místico nomeadamente à noite, quando as luzes azuis preenchem as pontes e iluminam de forma romântica todas as passagens existentes sobre o Rio. É uma cidade toda ela plana, como, aliás, o resto do pequeno país. Sendo uma das maiores metrópoles dos Estados Bálticos, em Riga ainda se percebem os traços deixados pela presença soviética e pela ocupação nazi, seja pelo estilo de arquitectura, seja por pequenos hábitos e costumes que se mantiveram e foram passando de geração em geração.

Como qualquer cidade medieval, também Riga está associada a uma lenda antiga e mítica que ajuda a perceber a simpatia das gentes. De acordo com a lenda, havia um simpático gigante que vivia numa das margens do Rio Daugava e que, numa noite, e de acordo com a crença popular, sob a imagem de uma criança que chorava na margem oposta, este terá carregado todos os pecados do mundo literalmente às costas... Por este feito, o bom-Gigante terá sido recompensado e com esse dinheiro, mais tarde, terá sido fundada a Cidade de Riga...

Mas eu conto a história...
Estátua de Lielais Kristaps junto ao Rio Daugava
Há muitos e muitos anos [um sorriso, não?! ;)] em tempos que hoje serão já tempos muito antigos, antes de Riga ter sido fundada, vivia um homem muito grande, um Gigante, chamado Kristaps (forma letã para designar "Christopher", ou "Cristóvão", em português). Este homem construiu para si uma cabana na margem direita do rio Daugava e ganhava a vida a transportar as pessoas de uma margem para a outra ou ao longo do rio carregando-as às costas - em algumas versões, ele teria um barco, mas isso agora não interessa e perdia a piada toda!...
Uma noite, quando já dormia, Kristaps (Lielais Kristaps = Big Christopher) acordou ao som de uma criança que chorava na margem esquerda do rio. Sem hesitar, o gigante nadou para o outro lado e, lá chegando, encontrou o menino ainda a chorar. Desorientado, o ogre pegou no menino triste, tê-lo-á sentado num dos seus ombros e iniciou a travessia do rio de regresso à margem onde tinha a cabana.


Assim que inicia a travessia, a cada passo, Kristaps percebe que a criança se tornava cada vez mais pesada, e quando já está a meio do rio, completamente esgotado, percebe que só com muito esforço e sacrificio poderia chegar à outra margem e salvar o menino... [Aqui entra a crença que explica que o bebé era o Menino Jesus e que aquela forma disfarçada que usou para ter surgido a Kristaps, será a metáfora que sustenta que o bom-Gigante estava a ser testado e daquela forma a carregar o todo o peso dos pecados do mundo].

Já sem qualquer energia, numa última réstea de força, Kristaps chega à sua cabana e coloca a criança no tapete em frente à lareira. Consta que terão caído num sono exausto.
Quando desperta, na manhã seguinte, Lielais Kristaps acorda para descobrir que a criança tinha desaparecido, mas que no lugar onde a deitara estava agora - qual recompensa - um cofre cheio de ouro.

Kristaps era um homem humilde e deste tesouro não foi gasto um único cêntimo ["santims" na moeda letã, o "lats"] até ao dia da sua morte. Consta também que o tesouro de Kristaps continuou sempre a crescer porque depois daquela noite as pessoas apareciam e deixavam sempre outras moedas de ouro em forma de agradecimento pela bondade do gigante.

Fraternidade e união
Mesmo antes de morrer, Kristaps doou todo o seu dinheiro com o expresso desejo de que ali mesmo, na margem do rio onde tinha a cabana onde vivera, se construísse uma cidade onde todos vivessem sem sobressalto e sem precisarem de cruzar o rio. Assim nasceu... Riga.

Na lenda da igreja cristã, St. Kristofor (Kristaps/Christopher) foi um gigante de Canaã que viveu no século III DC e que se dedicou sempre à difusão da mensagem cristã. Para a igreja, este gigante terá vivido sempre para o amor ao próximo e morreu como um mártir.

Em grego, Christophoros significa "aquele que carrega Cristo".
No século XV, em Riga, St. Kristaps tornou-se o Santo Padroeiro dos marinheiros e de outros empregados do comércio mercante resultando daí, muito provavelmente, o paralelismo com a medalha de St. Christopher [São Cristóvão] usado por viajantes em todos os lugares do mundo, ainda hoje.

Como por detrás de cada lenda há sempre o lado lógico da razão, a verdade é que haverá uma espécie de braço-de-ferro entre a crença popular de que foi Kristaps com a sua figura mítica quem fundou a Cidade, em vez do todo poderoso bispo alemão Albert.

Em 1590 foi esculpida uma réplica de Lielais Kristaps (Big Christopher) num tronco de pinheiro a medir 2,36 metros e colocado na margem do rio Daugava. Esta estátua foi sempre muito acarinhada e terá mesmo sobrevivido às devastações da Reforma quando muitos artefatos da Igreja Católica foram derrubados e destruídos.

Independentemente da sua religião, as pessoas visitam a estátua decorada com fitas e coroas de flores e velas acesas, e imploram a Kristaps para protegê-las do mal.

Nos tempos que correm, a estátua de Kristaps está no Museu de História de Riga e Navegação (que faz esquina com a Catedral Dome, ;) ), mas desde a alguns anos a esta parte, podemos encontrar uma outra, numa caixa de vidro, que está  colocada onde outrora estivera a cabana do gigante.
Ainda em jeito de curiosidade e para que se perceba a forma querida e grata como o gigante é visto na Letónia, Lielais Kristaps também aparece no verso da moeda de 10 lati.
Em Dezembro, no dia 18, é celebrado o Dia de Lielais Kristaps, muito popular entre as crianças letãs. Normalmente, a imagem surge associada a um gigante com um bebé sentado no seu ombro esquerdo, uma lanterna na mão esquerda, e um remo na mão direita.

Espero que tal como eu... possam um dia descobrir Riga e todos estes encantos...!
Garantias? Uma: vai mesmo valer a pena!
Boa viagem!!

Uma das ruas de Riga na calma de um final de tarde