Maputo - Moçambique - 7 da manhã e já tão quente... |
Pode parecer tratar-se de uma anedota, de uma
história criada. Mas não é. Aconteceu mesmo e tive oportunidade de tê-la
partilhado várias vezes desde então.
Hoje é uma recordação feliz e preencherá,
certamente, um dos muitos momentos engraçados da vida do Meu Menino.
Estávamos em Moçambique, o Yiuri e eu.
Compreendo bem a estranheza daqueles dois rapazes
que vinham a subir a Avenida 24 de Julho, perto da Pastelaria Primavera, onde
tínhamos acabado de lanchar.
Eu esperava que uma outra pessoa deixasse de usar a
cabine telefónica, pois queria ligar para alguém, certamente. O Yiuri começava
a ficar agitado e queria sair dali, mas eu mantinha-o preso com a trela e muito
perto de mim.
Os tais rapazes (talvez fossem pouco mais novos do
que eu, apenas) tinham estancado com os olhos postos no Yiuri e se eu já tinha
reparado neles antes, pela forma como trocavam opiniões e olhavam para nós,
agora era impossível não ouvir o que diziam um para o outro:
- Eh, pá! Tu não vês que é um cão? – perguntava um.
- É lobo! – afirmava o outro com um arrastado
ênfase sobre o primeiro “o”, qualquer coisa como “looobo”.
- É cão! – algo como “cãããão”!
- É lobo! – com o mesmo ênfase.
- Cão! Tu acha que iam trazer um lobo para estar
assim, no meio das pessoas?
- E tu já viu cão com esses olho? Só lobo mesmo!
Na Ilha de Inhaca, a beber água |
E enquanto eles esgrimiam argumentos e teorias,
normais para quem não esperava ver um cão de climas frios em plena África, de
forma quase anedótica e repetindo sucessivamente “cão” e “lobo” em teimosia
continuada, eu acabei por interromper a discussão ao falar para o Yiuri. Deve
ter sido qualquer coisa do tipo: “espera Yiuri. Já vamos embora”.
Percebendo que eu era português, um deles, cordial
e educadamente, resolveu esclarecer aquilo de uma vez, e dirigiu-me a palavra:
- Eh, patrão, desculpa lá, mas pode dizer se esse
animal aí é um cão ou um lobo?
Confesso que quando falei para o Yiuri tinha sido
com a secreta intenção de provocar que aquilo tivesse acontecido. E, claro, não
deixei escapar a oportunidade...
Olhei para ele e para o amigo e de uma forma muito
séria, respondi:
- As duas coisas. É um cão-lobo.
Assim que respondi, os dois iluminaram os rostos
como que satisfeitos e, retomando a marcha que haviam interrompido, enchiam-se
agora de razões:
- Tá ver!? Eu não disse que era cão?
- Sim, mas também é lobo, você ouviu!
- Sim, mas tem de ser mais cão...
- É cão-lobo, foi que disse aquele patrão...
E assim seguiram pela 24 de Julho acima. Lá
ficámos, eu e o Yiuri, o cão-lobo...
eheheh,lembro-me perfeitamente do dia em que contou essa historia! Sei ainda que o joao esta a dever um jantar,para recordar GRANDES dias de treino.
ResponderEliminarMarco Taveira.
Lembro-me como se fosse ontem, quando me contaste este episódio. Que saudades deste grande e eterno Yuri. Eternamente no meu coração, o famoso cão-lobo...
ResponderEliminareu tambem me lembro quando me disses-te essa historia a mim e a minha irma.Uma beijoca
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