terça-feira, 27 de março de 2012

MÁGICOS SENTIDOS

Setembro 2004 - Espinho
A vida, independentemente da posição social enquanto indivíduos, permite-nos três prazeres infinitos: a poesia..., a música... e o amor. Talvez, na verdade, todos estes sejam um apenas pois todos se fundem nos nossos sentidos em harmonia e em paz de espírito, maravilhando e tornando mágicos os minutos terrenos que nos são atribuídos para tomar consciência destes bens preciosos!

Podem até parecer palavras simples de sentido único, mas na verdade são palavras infinitas e divisíveis. Todas elas, sem excepção, encontram pontos de contacto em múltiplos valores e definições e são verdadeiramente plurais.

Hoje...? Hoje apenas quero expressar esse amor numa das milhentas formas com que se apresenta e se faz sentir, e da solidez deste amor resolvi fundir a poesia em homenagem a ti, meu Menino, que hoje completas mais um aniversário desde a tua partida...

Novembro 1999 - Açores

Para o meu Yiuri DES: 
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"Parem os relógios!
Desliguem o telefone!
Não deixem o cão ladrar dando-lhe um belo osso...
Calem os pianos e com tambor abafado... tragam o caixão e os que estão de luto.
Deixem os aviões fazer círculos gemendo em cima, escrevinhando no céu a mensagem:
"Ele morreu!"
Ponham laços negros nos pescoços brancos das pombas públicas,
Abril 2001 - Maia
Façam os polícias de trânsito usar luvas de algodão negras.
Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Leste e Oeste...
A minha semana de trabalho e o meu descanso de domingo...
O meu meio-dia, meia-noite...
A minha fala, a minha canção.
Pensei que o amor ia durar para sempre... Enganei-me...!?
As estrelas já não são precisas: apaguem-nas todas!
Empacotem a Lua e desmanchem o Sol!
Despejem o Oceano e varram a Floresta...!
Porque agora... nada há a esperar...!" W.H.Auden

sábado, 24 de março de 2012

OBJECTO DE ESTUDO

"(...) não sou bipolar, nunca fui nem me tornei muito acelerado (...)"

Foi há pouco mais de um ano que aqui escrevi sobre a tensão arterial. A minha tensão arterial.
Nesse dia, quando aqui anotei o relato que então motivou as palavras que publiquei, tinha "acusado" algo na escala arterial que ditava valores de 19 para a máxima e de 11 para a mínima e que depois de repetida a medição, se fixou em 18/12...!

Correu o intervalo de um ano e... por razões, planos e motivações diferentes, lá acedi em fazer uma "visita" à médica de família. Lá foi a velha lenga-lenga de sempre onde o paciente acaba por "orientar" o médico no sentido do tratamento e quanto mais eu revelava... mais a pronta e não menos profissional Doutora ficava  preocupada: "não diga mais nada", chegou ela a dizer, "quanto mais fala pior fica" (o cenário clínico, entenda-se!). A verdade é que o gabinete estava ocupado por ela, por uma jovem e não menos simpática médica-estagiária, eu e ainda por uma enfermeira que acabou por se juntar à incrédula medição dos valores arteriais e relato clínico... O problema maior, admitiam, era a minha idade, "um jovem", como diziam, e com aqueles valores?

"Chantagearam-me" no sentido de sair convencido a fazer um tratamento de rastreio para que se encontre a causa destes valores e deram-me a escolher entre fazer logo ali uma avaliação à urina e tomar uma injecção com uma dose reforçada para regular/baixar os valores ou... ir ao hospital. Receitaram duas "bombas" químicas: uma que acaba por baixar o ritmo cardíaco e uma outra que acelera o funcionamento renal e me leva a urinar várias vezes em intervalos muito curtos (claro que falho muitas das tomas do segundo!).

E exames? Ui!!
Ele é exame para o coração (electrocardiograma e ecocardiograma), ele é exame renal (ecografia), ele é exame aos pulmões (RX pulmonar), foram análises a tudo: colesterol, ácido úrico, urina, ureia, glicose, hepatites, HIV, e tantas outras que nem os nomes são bons de se escrever, quanto mais de se pronunciar!!

Resultados?
Como sempre: óptimos!
Mas isto é estranho! Sim, estranho. Porque sinto que de facto estou a acusar essa coisa do envelhecimento (logo pelo facto de estar a fazer exames!), porque noto esses traços que são característicos em todos aqueles a quem vimos somar anos e... chegar a velhos. Porque realmente sinto que já não tenho a mesma frescura física de outros tempos que me parecem sempre tão recentes e que na verdade já passam em rolos de 5, 10, 15, 20, 25 anos, e que só dou conta quando ao olhar para trás tomo consciência de que terá corrido um intervalo de tempo tão... grande!
É estranho porque com todas estas evidências de que o tempo também passa por mim nesta vida terrena, sinto "coisas" estranhas com o meu corpo; tonturas e apertos dolorosos, cansaço e mau-estar e até, às vezes, o que sempre ouvi descrever como "azia".

Quando nessa minha peça sobre a tensão arterial, há coisa de um ano, escrevi sobre os riscos a que me sujeitava por viver com a tensão arterial tão elevada, também me descrevi como não sendo, não me classificando como uma pessoa "normal": "Bem sei que não serão valores normais para pessoas ditas "normais", mas também sempre defendi que são os meus valores e que se calhar eu... não sou "normal". Certo é que já "carrego" estes valores há muito tempo e continuo a ser como sempre me habituei a conhecer. Não sofro variações de humor, não sou bipolar, nunca fui nem me tornei muito acelerado, não me identifico com alguns dos factores de risco como o álcool, o tabaco ou a obesidade e nem me considero propriamente um "resistente" pois conheço o meu caso, conheço os riscos e só não estou a procurar medicação porque considero que aí sim, terei problemas de saúde", foi o que então escrevi. Reitero a ideia: agora que iniciei esta caminhada rumo a um eventual "tratamento", vou mesmo começar a ter problemas de saúde! Veja-se só a quantidade de exames que tive de fazer apenas na "ronda de abertura"!!!

A verdade é que dei uma chance a mim mesmo de poder ver onde e como funciona esta coisa a que todos chamam "medicina". E agora...? Espero o tal milagre do tratamento ou da cura?



"... Cerca de metade das pessoas que sofrem deste problema de saúde nem sequer sabem que o têm, pois a tensão alta, na maioria das pessoas, não produz sintomas a não ser em valores já bastante elevados. Daquelas que o sabem, cerca de metade negligenciam frequentemente o tratamento, porque se sentem bem. Como resultado, em cada 8 pessoas hipertensas, apenas 1 a 2 têm a pressão arterial controlada!
Uma tensão arterial frequentemente alta (igual ou superior a 140/90) pode também causar danos irreversíveis em outros órgãos, como os rins e os olhos.
A Hipertensão pode destruir órgãos vitais do corpo, sem que a pessoa se aperceba. Infelizmente para muitos, o primeiro sinal é um AVC ou um Enfarte do Miocárdio (ataque do coração) inesperados. Para alguns, o primeiro sinal pode também ser o último
!
" Marianne Ferreira - Médica



domingo, 18 de março de 2012

TROIKAS E BALELAS SOBRE A CRISE


Muito se tem falado sobre crise, troika, recessão, falência, bancarrota, estabilidade... e tudo isto, inevitavelmente, acaba sempre a rimar com esperança. "Esperança" de que tudo se resolva, "esperança" que melhore, "esperança" num amanhã diferente.

Talvez seja um sinal dos tempos modernos e então vamos juntando palavras nunca antes ouvidas, nunca antes explicadas como se fizessem parte de todos nós: rating, Moody's, Fitch ou Standard & Poor's, e até a palavra "lixo" já nem é para definir o que sempre se entendeu e definiu como... lixo.

Estas serão algumas palavras que entram nos mesmos sonetos que "troika" ou "crise", mas há outras - são tantas e nos mais variados campos! - que infestam os dias que correm e mesclam entre a cada vez mais espremida língua de Camões a favor da cada vez mais presente língua de Shakespeare. Se recebemos correio electrónico não desejado, não chamamos "publicidade não desejada", mas "spam"; se nos roubam o carro de forma violenta: "carjacking"; se os nossos filhos andam à luta na escola: "bulling"; e se queremos conversar com alguém usando o computador: "chat". Até os temas musicais vistos em televisão e que de repente, assim, de um momento para o outro passaram de "telediscos" para "videoclips"!? Bem!!!??
De facto, quem não se ajusta e adapta aos tempos que correm e à línguagem que agora se vai falando... rapidamente se converte num "primossauro", qualquer coisa anterior à era dos dinossauros e do homem pré-histórico!

Mas de volta às questões relacionadas com este estado de (des)graça em que vivemos e que todos temos ouvido falar sem, talvez, conseguirmos ter uma real percepção do que está e do que pode vir a passar-se, será curioso pensarmos se depois da última vez que estivemos num aperto destes (aí a linguagem era bem mais vulgar e embora se tenha conhecido a presença do FMI, a verdade é que na altura se falava em "vacas" em vez de "troika"; eram os tempos perdidos das "vacas gordas" e os tempos que se viviam de "vacas magras"), de facto aprendemos alguma coisa? Não creio.



Recordo-me de na altura se fazer uma rima que rezava qualquer coisa como "SANTO ANTÓNIO FEZ MILAGRES NA SÉ , AGORA, QUEM QUISER MILAGRES, VAI À CEE!", e é mesmo aí onde pretendo chegar pois para aportarmos no estado actual em que nos encontramos, na verdade foi porque nunca antes a situação foi resolvida. O que aconteceu foi que se entrou na Comunidade, vieram dinheiros por aí abaixo que permitiram "lavar a cara" e que se vivesse à conta desse crédito - servindo alguns mais do que outros e outros ainda em proveito próprio, claro! - e que agora está a ser tudo cobrado e com juros! Mudou, efectivamente, alguma coisa entre a crise de então e a actual se exceptuarmos que então se negociava em escudos e agora é em euros? Não! Nada! Andamos todos de tanga outra vez!

E agora? Qual vai ser o "milagre" desta vez?
Vai a própria Comunidade Europeia (CE) criar uma espécie de Liga dos Países da Comunidade a exemplo da Liga dos Campeões no futebol, que dá milhões caídos aos pontapés?
Vamos ter uma nova CE para podermos sair deste buraco em que estamos?
Vamos poder receber mais dinheiros para fazer estradas que numa primeira fase serão sem custos apenas e só para tapar os olhos e fazer esquecer o inconveniente que todos vivemos com as obras, para que depois, na primeira oportunidade e quando visíveis as melhorias para o dia-a-dia das pessoas, possam ser imputadas portagens com sistemas ainda mais caros, menos funcionais e que tão pouco contribuem para criar postos de trabalho?
Ou será que vamos mesmo acabar marginalizados e esquecidos, sem dinheiro e sem orgulho à conta de uns tantos que em vez de governar o país apenas se governaram pelo país?

Nesses outros tempos em que a linguagem era comum e também era NOSSA, quando estávamos sujeitos ao que agora se chama de "rating" seria porque os vizinhos, o senhor do banco, o senhor da mercearia, o vendedor do automóvel com quem se negociara, teriam uma opinião formulada sobre a nossa capacidade e vontade de virmos a cumprir de forma atempada e na integra com as nossas responsabilidades. E todos nos entendíamos. Agora, com a linguagem que nos é imposta, para podermos fazer seja o que for, temos de assinar um contrato, assumir um sem número de penalizações por eventual incumprimento desse contrato, saber inglês e dominar perfeitamente a linguagem financeira! Veja-se o exemplo: "Standard & Poor's" é nada mais, nada menos do que uma empresa de notação financeira que publica análises e pesquisas sobre bolsas de valores e títulos. No entanto, quando traduzida à letra, temos "padrão" e "pobres"... Quer isto dizer mais qualquer coisa quando lido entrelinhas?!?...

Ironia à parte eis que o problema inicial persiste: como, afinal, se pode sair desta crise em que estamos todos mergulhados? Não deve haver uma nova Comunidade Europeia, e uma eventual Reunião dos Países Latinos talvez nem seja rentável, não há grande esperança na classe política para que de repente venhamos a ter alguém que realmente governe, não há formas nem fórmulas mágicas, já enchemos o país com alcatrão e até fizemos autoestradas alternativas para ter "à mão" e todas elas cobráveis... portanto, talvez, seja chegada a hora de se investir no Ensino. Falo do Ensino a sério e de qualidade, não desse que aí anda com o propósito único de se poder afirmar que temos um bom índice de escolaridade quando na verdade se concluem cursos superiores a acreditar que a palavra "bué" sempre existiu em português ou que o arquipélago dos Açores é uma uma ilha...
Aparentemente já não há muito que possa ser feito sobre quem já deixou o Ensino, mas há imenso que pode ainda ser feito no campo da Formação se se tratar de uma Formação profissional direccionada e efectivamente útil quando transportada para o mercado de emprego.

Empregos esses que devem permitir "renovar-se" em vez de "arrastar-se". Não consigo perceber esta tendência para se alargar (adiar?) o prazo da reforma se a "dependência" é a mesma: os mais novos não têm colocação porque os lugares estão ocupados pelos mais velhos, mas também vivem de subsídios e de rendimentos e de precariedade... Serve de alguma coisa uns trabalharem até à exaustão quando outros, frescos e cheios de energia, acumulam horas sem fazer nada?

Que mensagem é esta, afinal, onde se educa um filho por via da formação académica para que venha a ser transformado num "desalojado social"? Sim, porque se antes do curso ninguém os emprega porque lhes falta a licenciatura, depois desse desiderato, ali a roçar os 30 anos, ninguém lhes dá emprego porque não têm qualquer experiência, alguns casos - já de si dramáticos - chegam aos 40 e também não há quem lhes dê emprego nessa altura porque... já vão tendo alguma idade e, claro, quando chegam à idade em que já não dá mais para trabalhar e querem pedir a reforma... o que podem obter se nunca trabalharam?

Este é o actual estado das coisas e é para este sistema que todos nós andamos a pagar neste país falido e f#?+$* por meia cambada de bandidos que se dizem "os" doutores e engenheiros governantes!

"O mundo é um lugar fantástico e merece que lutemos por ele" (Hemingway), e Portugal também!