domingo, 23 de janeiro de 2011

Yiuri em Moçambique - O cão-lobo


Maputo - Moçambique - 7 da manhã e já tão quente...

Pode parecer tratar-se de uma anedota, de uma história criada. Mas não é. Aconteceu mesmo e tive oportunidade de tê-la partilhado várias vezes desde então. 
Hoje é uma recordação feliz e preencherá, certamente, um dos muitos momentos engraçados da vida do Meu Menino.








Estávamos em Moçambique, o Yiuri e eu.
Compreendo bem a estranheza daqueles dois rapazes que vinham a subir a Avenida 24 de Julho, perto da Pastelaria Primavera, onde tínhamos acabado de lanchar.
Eu esperava que uma outra pessoa deixasse de usar a cabine telefónica, pois queria ligar para alguém, certamente. O Yiuri começava a ficar agitado e queria sair dali, mas eu mantinha-o preso com a trela e muito perto de mim.
Os tais rapazes (talvez fossem pouco mais novos do que eu, apenas) tinham estancado com os olhos postos no Yiuri e se eu já tinha reparado neles antes, pela forma como trocavam opiniões e olhavam para nós, agora era impossível não ouvir o que diziam um para o outro:
- Eh, pá! Tu não vês que é um cão? – perguntava um.
- É lobo! – afirmava o outro com um arrastado ênfase sobre o primeiro “o”, qualquer coisa como “looobo”.
- É cão! – algo como “cãããão”!
- É lobo! – com o mesmo ênfase.
- Cão! Tu acha que iam trazer um lobo para estar assim, no meio das pessoas?
- E tu já viu cão com esses olho? Só lobo mesmo!
Na Ilha de Inhaca, a beber água
E enquanto eles esgrimiam argumentos e teorias, normais para quem não esperava ver um cão de climas frios em plena África, de forma quase anedótica e repetindo sucessivamente “cão” e “lobo” em teimosia continuada, eu acabei por interromper a discussão ao falar para o Yiuri. Deve ter sido qualquer coisa do tipo: “espera Yiuri. Já vamos embora”.
Percebendo que eu era português, um deles, cordial e educadamente, resolveu esclarecer aquilo de uma vez, e dirigiu-me a palavra:
- Eh, patrão, desculpa lá, mas pode dizer se esse animal aí é um cão ou um lobo?
Confesso que quando falei para o Yiuri tinha sido com a secreta intenção de provocar que aquilo tivesse acontecido. E, claro, não deixei escapar a oportunidade...
Olhei para ele e para o amigo e de uma forma muito séria, respondi:
- As duas coisas. É um cão-lobo.
Assim que respondi, os dois iluminaram os rostos como que satisfeitos e, retomando a marcha que haviam interrompido, enchiam-se agora de razões:
- Tá ver!? Eu não disse que era cão?
- Sim, mas também é lobo, você ouviu!
- Sim, mas tem de ser mais cão...
- É cão-lobo, foi que disse aquele patrão...
E assim seguiram pela 24 de Julho acima. Lá ficámos, eu e o Yiuri, o cão-lobo...