domingo, 28 de setembro de 2014

BILINGUE AOS 13 MESES

Sempre sorridente e muito feliz
O bilinguismo precoce é uma realidade e é característico nas crianças que até aos três anos de idade aprendem a falar duas linguas ao mesmo tempo. Trata-se de um facto.
A minha Constança, atenta que começa a estar aos sons que ouve e tenta repetir surpreendeu-me um destes dias quando cheguei a casa depois de um estágio desportivo de 3 dias...
"A tua filha já fala inglês", informou-me a mãe, "queres ouvir?"
Desconfiei do que dali vinha, mas a minha alma encheu-se de curiosidade...
"(...) papá babado e meio palerma (...)"
"Constança", chamou a mãe, "diz: bye-bye!" 
Compasso de espera.
Eu sorria (aquele sorriso de papá babado e meio palerma que os pais costumam ter!) à espera de ouvi-la balbuciar qualquer coisa.
Ela, a filha-linda-do-pai, olhou para mim, levou a mão direita à cabeça, fez um sorriso maroto, e, sem hesitar, disse com uma completa perfeição: "bye-bye!", carregando sobremaneira nos "b´s".
Rimo-nos todos! Repeti para ela o mesmo "bye-bye" e ela "bye-bye", de novo!
"Quêêêêê???"
Foi uma paródia!
Nos dias seguintes ela até já respondia ao nosso "chau!, adeus!" com o bye-bye, fazendo a associação de que tudo significaria o mesmo.
Eu quis ir mais longe e comecei a pronunciar outras frases: "where are you from?, what´s your name?, how old are you"... e foi quando descobri que a minha filha, num ápice, também já falava angolano!!
Sim, eu disse "falar angolano" e não português (porque isso é o que ela tem estado a aprender), senão veja-se: às minhas divagações em inglês, ela fez um período em silêncio, como que a absorver o que ouvia e depois, para rematar e esclarecer o assunto respondeu apenas:
"Quêêêêê???"

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A FORÇA DO NOSSO AMOR

Ele perguntava com o olhar: "porque me fazes isto?" (andar de barco)
Há quem diga que a relação entre os homens e os animais, os cães em particular, estão traçadas antes ainda de haver contacto entre eles. Determinado cão tem determinado comportamento porque está directamente associado ao comportamento do "dono-companheiro-amigo" e por isso mesmo resulta a relação entre eles e não resulta a relação com outra pessoa, que se coloque entre ambos. "O cão é a imagem do dono", já todos ouvimos dizer!

Hoje volto a recordar uma história vivida com o meu Yiuri e que vem reforçar uma vez mais a cumplicidade que existia entre nós. Foram muitos os anos juntos e foram muitas as histórias partilhadas, umas boas, outras menos boas, naturalmente. De vez-em-vez a memória lá me assalta com uma recordação e de vez-em-vez, lá consigo organizar as ideias e aqui registar uns episódios.

Espinho (2006)
Este foi vivido em 2004. Era verão e vivíamos perto da praia, mas para lá chegarmos atravessávamos a linha do comboio que cortava a cidade em duas partes. Quando ia para a praia a maior parte das vezes optava por usar o túnel que ligava as duas margens passando por debaixo da linha férrea e mesmo quando cruzávamos a linha do comboio provavelmente nunca teria coincidido com a passagem de um comboio que não parasse nessa estação e passasse mais depressa, um rápido.


Mas aconteceu um dia!...
Numa tarde em que já regressávamos a casa e optando por atravessar pela estação adentro, quando nos aproximávamos da linha tivemos de parar para deixar passar um desses comboios rápidos (era um Alfa, na verdade) e não só o barulho da trepidação e dos carris aliado à velocidade já é assustador, como, à passagem pelas estações, é costume os maquinistas arrastarem uma buzinadela sinalizadora, o que além de assustar qualquer um ainda alarma.
Yiuri e Yuca

E assim foi que aconteceu: ao perceber a aproximação do comboio ajustei a trela que segurava o Yiuri, juntei-o a mim e permaneci quieto a 3-4 metros do limite da linha para ficarmos a ver passar o Alfa.

A buzina soava bem alto, a cancela que controlava a passagem dos carros e peões também emitia os sons das campainhas em alerta e no exacto momento em que o comboio passa e rasga o ar e faz aumentar o ruído para valores bem mais elevados... o Yiuri assusta-se, agita-se e tenta sair dali a correr. Latiu, como sempre fez quando se queixava de alguma coisa e deixou bem clara a ideia de que estava assustado. Muito assustado!

Sesimbra (2006)
Passaram algumas semanas e a verdade é que nunca mais consegui convencê-lo a aproximar-se da linha do comboio para podermos ir para a praia a pé. Tentei diferentes estratégias: atravessar em locais diferentes, com ele à trela, com ele solto... fiz de tudo, mas a verdade é que sempre que ele percebia que íamos na direcção da linha de comboio tentava fugir, travava a marcha e recuava, ladrava insistentemente... enfim, deixava clara a posição dele e não passávamos.

Por essa altura viajei para Inglaterra e com toda a burocracia que existe para levar um animal para o Reino Unido, a solução foi mesmo deixá-lo por cá. Ainda que consciente de que ele estava a ser bem tratado fui sabendo que havia dias em que andava mais triste e saudoso, como eu, de resto, em terras de Sua Majestade. Regressei ao fim de algumas semanas e de alguma forma ele sentiu o meu regresso pois tanto quanto me foi dado a saber, na véspera ele terá passado todo o dia junto ao portão e acabou mesmo por dormir lá, como que à minha espera.

Aniversário 10 anos (2007)
Uma vez regressado e de novo juntos, passados uns dias saímos para passear em direcção à praia.
O passeio corria muito bem até ao momento em que ele percebeu onde estava e para onde íamos... Eu já me tinha esquecido do "trauma" dele, mas ele não. Começou com aquele "festival" de latidos e tentativas de recuar e voltar para trás... com toda a gente a olhar com ar incrédulo, como se eu estivesse a torturá-lo ou algo igualmente sofrido...

Com toda a calma do mundo e percebendo que à força não o convencia de modo algum, passei a trela a quem estava connosco (e que tinha tratado dele na minha ausência), foquei a atenção dele em mim e despedi-me dele: "Yiuri, o dono vai embora. O Yiuri fica!", e avancei na direcção que queria.

Ele ficou baralhado...
Deixou de ladrar.
Olhava para mim com aquele ar confuso e de quem ainda tinha muitas saudades minhas...
Consegui perceber o balão de pensamento dele: "então?! ainda agora chegaste e já me vais deixar de novo?! Não quero!"

Foi um momento único. Eu já estava uns bons 8-10 metros à frente quando ele avançou na minha direcção arrastando quem o segurava e saltou para mim, aos berros: "espera! eu vou! eu vou contigo! estou aqui!"...

Acarinhei-o e entre festas e sorrisos lá seguimos todos juntos para um passeio excelente com muitas fotografias à mistura como se nada fosse e não houvesse mais nada que se intrometesse entre nós.

O trauma ficou curado logo ali e sempre que quisemos fazer o passeio ele encarou a linha do comboio como se jamais tivesse havido razão alguma para hesitar. Foi o poder do amor que o curou. Foi o poder da força que tinha o nosso amor!