quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Palavras ditas para sempre


Descanso eterno ao meu Menino
Ninguém se lembrou...
Pelo menos ninguém falou do assunto comigo.
Ainda não consegui enfrentar algumas memórias. Alguns vídeos que tenho evitado...
Ainda choro quando lembranças avulso me assaltam e me roubam a serenidade e o equilíbrio que tento manter sob o tal lema que dita que "a vida continua".
Hoje, 27 fez um mês que o meu Yiuri partiu. Hoje, dia 28, fará um mês que o enterrei... Tantas saudades!!
Fiquei desolado com as pessoas que não estiveram presentes na cerimónia dele. Por muito que eventualmente não tenham percebido o alcance do evento, esperava que tivessem aparecido, que tivessem mostrado como o respeitavam e como compreendiam, de facto, o que era a nossa amizade.
Mas não vieram. Em vez disso, foi uma cerimónia reservada. Triste. Fria.
Mesmo não estando presentes, foram muitas as mensagens e telefonemas que recebi pelo Yiuri e em jeito de agradecimento e de homenagem, publico abaixo todas as que chegaram após a minha comunicação.
Obrigado pelas palavras e manifestações de sentimentos.
O Yiuri também agradece.
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"... A chama da vida está mais ténue.
O Yiuri morreu hoje às 13h25. Ainda está em casa para quem queira vir despedir-se. O funeral é amanhã às 15h30 em Nogueira da Regedoura, perto de casa.
Yiuri DES, o meu menino: 26-05-1997 | 27-11-2010."





Yiuri com 2 meses

"Sinto muito a tua perda amigo.
Estou contigo irmanado na dor.
Abraço amigo." - João Carlos Vale - 27/11/2010 - 18h49


"Bolas... Muito triste.
Perdeste o teu grande amigo. :(
Pensa apenas que lhe deste a vida mais preenchida e feliz que um cão pode ter e ele retribuiu a 100%.
Um grande abraço e um beijo da Susana."
- Hugo Reis - 27/11/2010 - 18h51



Momentos que partilhámos na mesma estrada


"Lamento imenso, Emílio.
Sei que era como um filho para ti. Revejo-me na tua dor porque também perdi o cão que mais gostava como um familiar. Também era como se fosse meu filho.Para sempre no teu coração, para sempre na tua memória. Conserva-a, é preciosa! Os meus sentimentos, amigo." - Marta Bigail - 27/11/2010 - 19h02



"Os meus sinceros sentimentos.
Ficam na tua memória os bons momentos que te proporcionou, pois sem dúvida que foi mais que uma amizade." - Lemos Figueiredo - 27/11/2010 - 19h14


Ano 2000 - Açores
"Há algum autocarro para aí? Lamento, nem quero pensar quando o meu me deixar. Já são 18 anos..."
- Luís Miguel Vieira - kyrostur -  27/11/2010 - 19h28

"Sinto muito pelo Yiuri, Emílio. Força!"
- Alexandra Pereira - kyrostur -  27/11/2010- 19h30


"Quando a vida passa a ser um sofrimento acredito que a morte é muito melhor. Para quem fica "recordar é viver"... Força!" - Carla Fonseca - 27/11/2010 - 19h36



Para a última morada


"Neste momento estou contigo.
Um beijinho. Tens que ter muita força. Beijinho."
- Tia Alda - 27/11/2010 - 19h40 (Açores)




Dezembro 1997 - Ericeira


"Lamento muito meu irmão, do fundo do coração.
Lamento por não poder estar aí, prestar-lhe uma última e merecida homenagem... Coragem e um enorme abraço meu irmão...!" - Ivo Matos - 27/11/2010 - 19h49 (Angola)


"Vi agora a mensagem e estou em choque, não consigo imaginar como se está a sentir... a perda do Yiuri, o seu companheiro, o seu amigo. Posso apenas mandar-lhe um abraço e as minhas condolências. Um abraço mister... amigo." - João Pedro Bandeira - 27/11/2010 - 19h49

"Sinto muito meu amigo, sei o quanto vocês eram ligados.Vou te dar uma notícia para te tentar animar: eu estou grávida de 5 meses e é uma menina.  Bjs, Ivone."
- Ivone Alves - 27/11/2010 - 19h52 (Holanda)

"Os meus sinceros sentimentos, sei o quanto o Yiuri foi, é e sempre será importante para si. Um forte e sentido abraço." - Ventura - 27/11/2010 - 19h52


"Os meus sinceros sentimentos. Eu tenho a perfeita noção do significado que o Yiuri tinha no seu dia-a-dia. Um abraço amigo nesta hora difícil do Pedro Borges." - Pedro Borges - 27/11/2010 - 19h53 

Yankie a velar o Yiuri deitado ao lado dele e em claro sofrimento


"Acho que consigo imaginar a dor que estás a sentir neste momento. Choro ao saber...
O que dizer agora...? Não sei, mas sente um beijo e um abraço como se eu estivesse contigo.
Mesmo querendo não posso ir aí pois amanhã trabalho, mas por favor, faz uma festinha e dá um último beijo ao Yiuri por mim.
Beijo grande e Força."
- Sandra Maria - 27/11/2010 - 19h56





Frende | Baião - Dezembro 2002
"Emílio, lamento o sucedido. Nada que possa dizer irá aliviar o seu pesar!
Todo o meu respeito e apoio. Não posso confirmar presença amanhã, mas vou tentar. Cumprimentos, Cris."
- Cristina Trancoso - kyrostur - 27/11/2010 - 20h18

"Os meus sinceros sentimentos. Sei o quanto ele era e continua a ser importante para ti. Tens de ter muita força. Beijos. "
- Cristina Freitas - 27/11/2010 - 20h19


"Sei que não existem palavras neste momento para aliviar a dor mas... Os meus sentimentos..."
- S. Cristina Aguiar - 27/11/2010 - 20h50


"Queria dar-te um beijinho, sei que a perda do Yiuri é muito dolorosa para ti.
Beijo grande." - Maria José - 27/11/2010 - 21h00

O último adeus


"Meu amigo sinto muito a tua perda. Tenho ideia do que o Yiuri significava para ti. Afinal também era pai da minha menina.
Por motivos de trabalho eu e o Vasco não vamos poder passar aí. Desejo-te força nesta altura menos boa. Beijinho grande e abraço do Vasco." - Diana Guimarães - 27/11/2010 - 21h03

 


"Para o grande Amigo do meu Amigo:
"Amigo é aquele que não tem rosto, tem sentimento.
Amigo é aquele que não tem raça, tem coração.
Amigo é aquele que não tem hora, pois todas as horas são horas.
Amigo não tem alma, tem elevação.
Resumindo, Amigo é sempre Amigo, seja animal, real ou virtual"
Uma pequena homenagem minha ao grande Amigo do meu Amigo.
Os meus maiores sentimentos, Amigo."
- Paulo Sousa - 27/11/2010 - 21h15


Saída de casa

"Lamentamos a perda, mas conforta-nos a certeza de que o Yiuri viveu rodeado de carinho e dedicação. Um abraço. Rute, Renato e Simão." - Renato Castro - 27/11/2010 - 21h21

"Olá Emílio. Um triste dia para nós, pois um membro da família deixou-nos. Os meus sentimentos."
 - Barbosa Mr. Bean - 27/11/2010 - 21h22 (Inglaterra)



"Boa noite Emílio... peço desculpa porque estou em Celorico de Basto e pena minha não poderei estar presente amanhã. Não encontro palavras de conforto para te dar!! A não ser dizer-te que a vida que o Yiuri teve contigo foi de certeza muito boa! Beijinhos e muita força... fica bem!
- Fernanda Rodrigues - 27/11/2010 - 21h31

"Amigo é com lágrimas nos olhos e um grande aperto no coração que te desejo força para ultrapassares este momento que é tão difícil. Beijos grandes. O meu pensamento será reservado para vocês nos dias que virão!" - Rosário - 27/11/2010 - 21h45 (Luxemburgo)

Profissionalismo da Funerária Rios

"Lamento muito Emílio, a perda do Yiuri. Não posso estar presente fisicamente mas em pensamento partilho este momento de dor consigo e os demais amigos do Yiuri! Um beijinho grande e um abraço!" 
- Ana Rua - kyrostur - 27/11/2010 - 21h46

"Emílio, nestes momentos as palavras são inúteis, mas queria dizer-lhe que lamento muito a sua perda. Um abraço, Maria."
- Maria João - kyrostur - 27/11/2010 - 22h31 




"É um dia muito triste hoje. :( Foi teu menino e também teu companheiro. Estou fora, numa formação. Só chego amanhã à tarde. Não devo conseguir chegar a tempo do funeral. Não estou de carro. Passo em tua casa depois para te dar um abraço. Beijinho e um abraço." - Cacilda Pereira - 27/11/2010 - 23h28
Chegada ao cemitério

"Meu irmão, estou preocupado contigo, não faço a mínima ideia o que dizer para ajudar. Quando puderes atender, avisa-me. Embora com alguma distância entre nós, continuo por aqui. Abraço."
- Mauro Matos - 27/11/2010 - 23h55

"Sinto muito pelo sucedido, o Yiuri era fora-de-série e muito especial... muita força migo!!... Desculpa a hora da msg, mas agora com a bebé é assim! Um abraço forte. Rosina, Catarina e Gonçalo"
- Rosina - 28/11/2010 - 00h58


Depósito da urna na campa
"Pang-Lau, fiquei sentida com a ida do Yiuri, mas tenho a certeza absoluta que ele morreu feliz e completo, pois foi isso que ele viveu como teu companheiro e amigo. Vocês foram felizes, isso é que fica no coração. Desculpa não estar aí contigo neste momento. Abraços."
- Marta Ramalho - 28/11/2010 - 11h38

"Beijinhos da tia e primos"
- Tia Alda - 28/11/2010 - 12h21 (Açores)

Prestes a ser enterrado...

"O meu pensamento está contigo e com o Yiuri. Beija. Abraço forte."
- Mara - 28/11/2010 - 13h33

"Não sei bem o que dizer, só que lamento. Gostava de ir hoje, mas não vou conseguir, só estou a voltar agora de Lisboa."
- Mariana Araújo - 28/11/2010 - 14h18



Flores silvestres como os campos que ele gostava de correr

"Olá mano.
É com grande tristeza que recebo essa notícia, ainda por cima sabendo o que representava para ti.
Sabes, sempre tive um sentimento de posse em relação a ele. Sempre o considerei meu também, apesar de a distância me ter afastado muito dele. Aliás, fui dos primeiros a conhece-lo.
Estou de luto também... mas a vida continua meu querido irmão.
Força... estou aqui para o que quiseres. Beijo." - Fuínha - 28/11/2010 - 16h57



"Olá Emílio.
Venho partilhar da tua dor... Posso dizer-te que conheço, infelizmente, esse sentimento pois o Simba também partiu há poucos meses. Beijo e muita força. Ana."
- Ana Glória - 28/11/2010 - 17h34 (Estrasburgo)

"Um abraço Emílio, percebo bem o sentimento de perda, não há muito tempo passei pelo mesmo.
Fica bem!" - Tiago Cabral - 28/11/2010 - 17h54

"Olá Emílio :) gostava de estar contigo.Compreendo que possas querer estar mais reservado... no entanto se não houver problema para ti, posso ir aí. Beijinhos." - Cacilda Pereira - 28/11/2010 - 18h12

Imagens que vão perdurar no tempo



"Para um fiel Amigo: Yiuri.
É com grande saudade que nos despedimos deste grande Amigo e Fiel, um menino bem comportado da equipa Pet Shop Dallas que sempre te cuidou com carinho e respeito."
- Teresa Coimbra - Pet Shop Dallas - 28/11/2010 - cartão no ramo de flores





"Bom dia. Até pode não parecer!.. Quando alguém parte, o sentimento que fica é o vazio, o sentir mais só... mas então e as memórias de tudo o que foi partilhado pelos dois...? Agora tens uma missão: contar a história de um companheiro fiel e amigo! As memórias... passarão a ser colectivas. Pode não parecer, mas hoje é um bom dia para o início da tua missão!" - Flor Costa - kyrostur - 29/11/2010 - 10h45

Para sempre no meu coração e memória

"Olá amigo. Desculpa só ligar agora, mas não quis deixar de mostrar o meu pesar. A vida é mesmo assim e quem ama sente. Os meus sinceros pêsames, irmão. Abraço" - Pedro Linhas - 29/11/2010 - 11h30

"Não sei porquê mas só agora vi a tua sms. Sinto muito pela tua perda.
Um grande e sincero abraço. JMS"
- Joaquim Mota Soares - 29/11/2010 - 22h59

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Um amigo do Yiuri nos Açores que
vinha sempre para brincar ao final da
tarde. Nunca teve nome. Amigo, apenas.




Uma vez mais: Obrigado a todos!

"A vida são dois dias e nunca sabemos qual é o segundo...", mas prometo que nesse intervalo ainda vou contar algumas histórias bonitas que vivi com o meu menino...
Adeus Yiuri...!
Até...!?





terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Yiuri meu Amigo meu Companheiro


Maio 2007: Yiuri DES | Yiuri De Emílio Silva
“AMIGO é aquele que não tem rosto, tem sentimento.
AMIGO é aquele que não tem raça, tem coração.
AMIGO é aquele que não tem hora, pois todas as horas são horas.
 AMIGO não tem alma, tem elevação.
 AMIGO é sempre AMIGO, seja animal, real ou virtual”

Têm-me faltado as palavras.
Tem-me faltado a coragem.
Sobram, isso sim, as saudades que tenho dele...
Abunda em mim uma imensa tristeza e um vazio que não sei ainda como superar.
Choro... Rio...
Emocionam-me momentos bons e momentos menos bons que me vêm à memória e que foram marcados pela vida que partilhámos ao longo de 13 anos.
Algures sobre o Rio Sado em 2006
Não tive, até agora, na vida que tenho, qualquer relação constante e diária que tivesse durado tanto tempo. Nem amigos ou amigas, nem amores, nem família. Tive o Yiuri!...
O Yiuri foi meu Cão, meu Amigo, meu Irmão, meu Filho.
Era, como eu carinhosamente o tratava, "o Cão-do-dono", o meu menino.
Morreu.
Como choro neste momento!...
Como me dói e magoa assumir o que agora estou a escrever...
Nunca mais vou estar com ele!...
Nunca mais vou poder ver aquela expressão que ele fazia quando lhe dizia "este cão é muito lindo! É o cão-do-dono, não é?".
Era vaidoso. Era meigo. Era o meu cão...
Todas as semanas, ao sábado, àquela mesma hora (13h25) em que ele suspirou pela última vez, tenho feito um minuto por ele. Nesse minuto revejo-o ali, deitado.
Tenho de manter os olhos fechados para poder ver-me a tocar-lhe no pelo macio e sedoso.
Tento sentir o cheiro dele nas coisas dele, mas está a desaparecer com as imagens que guardo na memória referentes a esses últimos momentos.
Ele estava deitado na cozinha, na caminha dele. Entrei pela porta da sala e ouvi um engasgo. Olhei para ele e vi-o afastar a cabeça para trás e olhar para mim. Percebi que não estava bem. Corri para ele. Chamei por ele. Os lábios e o queixo estavam roxos. Estava a sufocar. Não sei porquê mas pensei em dar-lhe água. Peguei na seringa e coloquei-a na boca para que bebesse. Deixei que caíssem dois pingos e confirmei de imediato que ele já não estava a respirar.
Primeiro fiquei sereno a olhar para ele.
2008: Momento de ternura
Passei os dedos pelo pêlo dele e compreendi que ali terminava o sofrimento dos últimos dias.
Depois percebi que estava morto e que não mais voltava a ouvir-me.
A seguir dei conta da violência do que estava a acontecer: a nossa história estava a ser rasgada!
O Yiuri nasceu a 26 de Maio de 1997.
Chegou a mim no dia 17 de Julho desse ano, tinha 51 dias de vida.
Quando morreu, nesse dia 27 de Novembro de 2010, estava com 13 anos, seis meses e um dia.
Não me importa que digam que teve uma vida longa e preenchida.
Não me importa que digam que é a ordem natural da vida.
Nada mais me importa a não ser o facto de sentir muito a falta dele... Nem chega a fazer sentido ter os outros cães que tenho, não tendo o Yiuri para comandar o grupo.
2004: Activo e vigilante
Cuidei dele todos estes anos e quando morreu tive de assegurar que trataria dele também naquela última hora.
Assim o fiz. Estava sozinho em casa. Chorava e tentava tratar dele. Levantá-lo para poder trocar os resguardos que tinha na cama, foi... não tenho palavras para descrever... O corpo dele não fazia sentido, parecia apenas um tecido mole que se dobrava em partes diferentes. Levantava-lhe a cabeça e o resto do corpo não acompanhava... Foi.... não sei explicar.
Lavei-o cuidadosamente com água morna. Escovei-o. Escolhi uma coleira para ele. Deitei-o numa cama limpa. Deixei-me ficar ali, com ele. Chorava-o, apenas. Resolvi partilhar o que acontecera com os restantes cães pois estavam demasiado calmos, como que a perceber que algo não estava bem. Abri a porta da cozinha para que entrassem. Mostraram-se agitados e nervosos. Olhavam sem chegar muito perto. Apenas o Yankie finalmente se aproximou. E ficou.
Tinham passado duas ou três horas. O telefone tocou e finalmente partilhei o que tinha acontecido...
Movi o que pude e o que não sabia que estava a mover para assegurar um lugar digno para fazer um enterro. Acabámos, eu e o Yiuri, por promover a criação de um cemitério para animais., onde ele está agora. Contratei uma agência funerária para que lhe fizesse a urna e o enterro. Garanti que ele seria tão digno na morte como sempre o foi em vida.
2009: Medas
Com o Yiuri morreu uma parte de mim, mas se estivesse nas minhas mãos dar-lhe a minha vida pela dele, eu fazia a troca, sem hesitar. Aliás, sempre acreditei que eu morreria primeiro do que ele, porque eu sim, às vezes, acho que perco o interesse por esta vida de circunstância que levamos, e o único consolo que tenho por ter ficado para depois dele, assenta unicamente no facto de assim ter garantido que ele seria bem tratado e acompanhado até ao fim...
Que se danem os que não compreendam!
Que se danem os que se encham de ternura!
Para mim e só para mim, esta é uma história sem final feliz.
Morreu o meu Maior e Melhor Amigo.
Entre nós nunca houve desconfiança, traição ou rancor.
Houve respeito. Houve amor. Houve partilha. Houve companheirismo.
Juntos, corremos o mundo.
Com o Yiuri morreu uma parte de mim
Juntos, fizemos conquistas na vida.
Juntos, caímos e voltámos a erguer-nos.
Juntos, passámos os últimos 13 anos de vida...
E agora, Yiuri? E agora, quem vai secar-me as lágrimas que me rolam pela face?
Uma vez, num dos jornais onde trabalhei, escrevi um artigo sobre os meus cães, sobre o Yiuri e a Niki e nesse artigo eu defendia que na vida as relações entre as pessoas, sejam amantes, amigos ou mesmo a família, passam por momentos de conflito e que tantas vezes desistem uns dos outros e se trocam e anulam entre si, mas que com os nossos cães isso nunca acontece do lado deles. Nesse mesmo artigo eu terminava com uma pergunta que mantenho: que os cães são o melhor amigo do homem, todos sabemos; e do cão, quem é o melhor amigo?..
Estou mais calmo neste momento.
2004: Sorriso de orelha a orelha
Já não choro. Apenas me dói a cabeça.
Voltarei a escrever algumas crónicas sobre a vida que partilhámos. Momentos divertidos, imortalizados nas lembranças que o baú das memórias vier a trazer ao de cima.
Embora pesem muito as recordações mais recentes e que se relacionam com a dor da doença e da velhice, temos também muitas histórias boas que foram vividas no pleno da nossa amizade e juventude e que aqui vou partilhar sempre que possa. Com isso, além de poder enfrentar as saudades dele, também estarei a cravar em palavras o que a memória amanhã poderá querer levar...
Adeus meu menino.
Adeus Cão-do-dono, lindo!...







domingo, 15 de agosto de 2010

"Como uma obra inacabada"

"(...) quero escrever mas... não sai"
Escritores, pseudo-escritores ou simplesmente amantes da escrita, todos sofremos do mesmo mais cedo ou mais tarde: bloqueios.
Não me confere a mim o direito de uma definição quanto ao que serei, na verdade.
Sei que as palavras escritas, para mim, sempre funcionaram como uma libertação, como uma obra inacabada que ao longo dos dias que preenchem uma vida, se vai refinando, se vai completando.
Mesmo assim, também eu, como tantos outros, tenho momentos - como agora! - em que quero escrever qualquer coisa mas... não sai.
Sinto em mim e por mim, correr um turbilhão enorme de sentimentos e de ideias mas que não consigo organizar, não estou capaz de pautar e de pontuar.
É aí que está o bloqueio...!
É assim que se sente.
É precisamente quando no peito se dá uma tempestade de emoções que não sabemos direito se fica a dever-se a tristeza ou a alegria, a saudade ou a proximidade, ao cansaço ou à agitação dos dias, à nostalgia ou, simplesmente, à falta de criatividade...?!
Como uma barreira dentro de nós
Há, com toda a certeza, outras definições para "bloqueio de escrita" mas para já, por hoje, esta vai servir sob a ideia recorrente de que o que escrevemos e lemos na hora é sempre fantástico mas que no dia seguinte, à luz de uma outra serenidade e poder crítico nos parece sempre tão... singelo, incompleto e tão menos interessante.

domingo, 11 de julho de 2010

Tribos da bola

Uma bola como "arma" de guerra
Éramos miúdos. Miúdos de Paz que guerreavam com uma bola.
O objectivo era apenas um: ganhar aos outros.
Os "outros"...!? Os outros eram os que estavam ao alcance de um jogo de futebol. Bairros. Grupos que eram tidos como mais fortes ou que ouviam falar de nós e tinham o mesmo objectivo: ganhar aos outros.
Naquele tempo, na periferia de Lisboa havia os bairros clandestinos e tantas vezes de má fama.
Havia um em particular, o da Pedreira dos Húngaros, entre Linda-a-Velha, Miraflores e Algés.
Na escola preparatória fazíamos os acertos e depois, aos fins-de-semana, resolvíamos a questão: 11 contra 11 em campo e... vamos a eles!
Éramos miúdos, de facto e não percebíamos bem aquele clima de terror. Às vezes parecia mesmo de raiva e de agressividade. Chegava a ser hostil o ambiente em torno de um jogo. Tudo podia servir de razão para se promover uma luta entre jogadores ou "adeptos".
Os bairros deram lugar a guetos e acabaram demolidos
Mas havia a causa que estava por detrás da reunião que nos concentrava e que era o jogo e para o jogo, claro, havia regras: as regras da palavra e da honra que se apoiavam nessa nuvem que fazia prevalecer a dita Paz. Pior do que tudo o resto, era não haver jogo, não haver um vencedor!
Desde muito cedo aprendi a lidar com o comportamento das pessoas e enquanto pacificador a fazer ponderar entre as consequências: se houvesse luta, não havia jogo, se não houvesse jogo... não havia bola, se não houvesse árbitro... também não havia jogo... e tudo andava em torno do mesmo.
Também eles não passavam de miúdos
Hoje já não somos miúdos e também já não há miúdos como naqueles tempos!
Eram tempos em que se percebia a diferença entre estar vivo e sobreviver. Entre ganhar um jogo e gozar desse estatuto até que se fizesse novo jogo e vencer uma luta sem que os festejos implicassem consequências.
Hoje, ao olhar para trás e ao perceber aqueles grupos de equipas que representavam os bairros "marginais" da Capital e que a nós, miúdos de então, de bairros mais sossegados, até intimidavam mas que nos enchiam de adrenalina e vontade de desafiar e até de jogar "em casa" deles, hoje, sei que afinal, também eles, não passavam de miúdos como nós. Hoje sei que também eles tinham medo e por isso eram agressivos.
Viveram sempre em comunidade
Hoje sei que na verdade eles viviam em comunidade. Mais, eles sabiam viver em comunidade. Sabiam que só assim estavam protegidos. Um bairro era uma família. Quanto mais forte fosse essa família, mais longe estariam os possíveis agressores.
Por isso mesmo, às vezes, eles preferiam deitar a perder um jogo a favor de uma boa luta pois só assim, mantinham viva a ideia de força, de intimidação e de controle que tanto faziam questão de poder manter. Éramos miúdos. Nós ... e eles!


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Palavras que duram uma vida

Tive oportunidade de aqui nesta página ter comentado e agradecido as palavras do João Carlos Vale com quem trabalhei esta época desportiva. Na altura achei que bastava linkar para a página dele mas entretanto resolvi juntar à minha página as palavras que ele mesmo gravou...
Um abraço João!
Obrigado!

João Carlos Vale
"Época muito complicada a que se viveu no Balsa Nova. Inicio tardio da pré-época (cerca de dez dias antes do primeiro jogo oficial). Incertezas quanto a atletas. Atletas com pouca e até nenhuma experiência em futsal, nomeadamente no futsal ao nível dos campeonatos nacionais. Como ridículo posso citar o 1º jogo para o campeonato que foi (des)orientado por mim. Descemos, é verdade. Mas conseguir uma vitória e um empate no Campeonato foi pouco menos que um milagre. Uma vitória por 8-4, frente ao Alfarelense e um empate a 5 golos frente ao Futsal Cidade de Lourosa (equipa do ex-boavisteiro Martelinho), com o golo do empate a ser consentido a 4 décimos de segundo do fim.

(…) Dos Treinadores

Mister Emílio Silva – Que me desculpem todos os outros treinadores com quem já trabalhei e onde se inclui o actual seleccionador do Catar, mas o Emílio foi simplesmente o melhor e a uma enorme distância de todos os outros. Da minha parte lamento a escassez de recursos materiais e físicos que me impediram de lhe dar o apoio de que tantas vezes necessitou. Dificilmente voltarei a trabalhar com ele (o que lamento), mas estou certo que dentro de muito pouco tempo, o verei a orientar equipas de campeonatos superiores à 3ª divisão nacional. Muitas vezes foi o único que acreditou no valor da equipa e naquilo que ela podia fazer. Foi um autêntico D. Quixote ao lutar contra gigantes na defesa da sua Dulcinea (leia-se equipa). Sempre pronto para apoiar os seus atletas/homens nos seus momentos de dificuldade. Mais do que um treinador foi um professor e um amigo.

Mister João Ramos – Excelente treinador de guarda-redes e cúmplice do Emílio. Amigo de todos os jogadores sem excepção, inovava a cada treino que ministrava, evitando assim a monotonia e rotina nos treinos. Fiel “escudeiro” do mister Emílio, apoiando-o em todas as decisões. Se o mister Emílio foi um autêntico D. Quixote, o João Ramos foi o Sancho Pança. Atenção, isto não é nenhuma piada ao facto de ele ser (sermos) elegantemente bem nutridos.
(...)"

domingo, 20 de junho de 2010

Saramago - Menos um Nobel vivo

Morreu José Saramago e na morte revelou-se um "novo" homem: o homem-mito.
Viveu uma vida inteira de revolta, de inconstante (desa)sossego numa busca permanente de um Deus que ele mesmo definiu como "Filho da Puta". Viveu onde e como quis, à margem de qualquer (re)conciliação social, política, religiosa ou gramatical. Escolheu Lanzarote, Fidel e parágrafos infinitos, sem vírgulas ou períodos para recuperação do fôlego. Assim se assumiu e definiu como vivo.
Agora morreu. E agora que morreu nasceu com ele um homem-mito. É o povo que sempre sedento de novos heróis e faminto de conversões de carácter quem cria e alimenta os mitos. Para eles, Saramago agora é visto como o defensor das injustiças sociais, o incompreendido e injustiçado... Para o povo Saramago nunca foi entendido nem compreendido. Para esse mesmo povo, Saramago talvez preferisse "dar-lhes" uma Cuba de Fidel em vez de uma Democracia de Sócrates mas, ainda assim, o povo acredita que era ele quem procurava a justiça social.
Efectivamente esse mesmo povo conheceu um líder comunista também já desaparecido e português, Álvaro Cunhal. Também ele se notariou pelos princípios que defendeu e afirmou como valores. Mas viveu e morreu em harmonia com as ideias que tinha.
Saramago? Escolheu Lanzarote como "pátria". Cuidou de saber viver com a "simplicidade" do dinheiro sempre presente e "escapou" como quis aos olhares indiscretos e respostas a perguntas que caíram no vazio.
A busca incessante por Deus, sempre presente no que escrevia, revela um homem sem Norte embora meticuloso e estudioso na busca de uma Luz que o orientasse. Num país Cristão, provocou a Igreja quando percebeu que a Política não alimentaria aquele espírito inquieto, antecipando ou aguçando, talvez, o interesse pelas obras que então editaria. Tal como outro herói do povo, Mourinho, preferiu uma relação de presunção e arrogância à parcimónia de ser apenas um ser talentoso mas amável e afável aos olhos dos outros.
Nasceu o homem-mito e com ele a controvérsia: o Presidente da República não marcou presença na Cerimónia Fúnebre. Estava nos Açores, em férias com a família. Justificou e assumiu que devem estar presentes os amigos, os conhecidos... o povo, mas efectivamente nunca privou com o Nobel e apenas o conhecia pelas obras. Ficou bem a Cavaco Silva afirmar publicamente essa posição e fazer a distinção entre as responsabilidades do Presidente da República e as que o obrigam enquanto homem e cidadão. Pior teria sido se ele mesmo se tem feito representar quando foi no tempo dele enquanto Primeiro Ministro que "estalou" o verniz com Saramago.
"Não há palavras, Saramago levou-as todas", foi a frase que marcou os discursos fúnebres. É mentira! Saramago deixou, inclusive, as palavras tantas vezes controversas que ele mesmo publicou, e as palavras que nos pertencem e permitem, por admiração ou por completo desdém, insurgir contra os criadores de mitos que apenas após a morte passam a opinar, conhecer e defender vidas e obras que tantas vezes foram apenas... ridículas.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Balsa Nova - João Carlos Vale

Recentemente terminei o meu trabalho como treinador da Balsa Nova em Viseu.
O João Carlos Vale, o nosso massagista, acabou por resumir a época e, simultâneamente, agraciar-me com palavras e elogios que embora nunca tenha evitado uma ou outra palavra, não esperava de todo.
Obrigado João e... até qualquer dia, pois essa ideia de que não voltaremos a ter oportunidade para trabalharmos juntos outra vez... talvez nem seja uma verdade absoluta...
Um abraço e continuação de muitas e boas equipas pela frente!

Novo espaço

Criei este espaço. Não me faltam ideias ou temas para preencher estas páginas. Vai faltar tempo, isso sim. Ainda assim, quero acreditar que vou fazer isto funcionar e espero que venha a ser um espaço de e com interesse. Sempre tive um sentido muito crítico sobre as coisas que me rodeiam, sobre os comportamentos a que assisto e sobre o que considero serem injustiças sociais. Sobre tudo isso mas também sobre o meu trabalho no jornalismo, o meu trabalho no futsal, o meu trabalho no dia-a-dia... pretendo aqui deixar um pouco do que testemunho, vivo e partilho. Porque vai ser um espaço aberto espero que venha a ser um espaço de interesse para todos.