domingo, 18 de março de 2012

TROIKAS E BALELAS SOBRE A CRISE


Muito se tem falado sobre crise, troika, recessão, falência, bancarrota, estabilidade... e tudo isto, inevitavelmente, acaba sempre a rimar com esperança. "Esperança" de que tudo se resolva, "esperança" que melhore, "esperança" num amanhã diferente.

Talvez seja um sinal dos tempos modernos e então vamos juntando palavras nunca antes ouvidas, nunca antes explicadas como se fizessem parte de todos nós: rating, Moody's, Fitch ou Standard & Poor's, e até a palavra "lixo" já nem é para definir o que sempre se entendeu e definiu como... lixo.

Estas serão algumas palavras que entram nos mesmos sonetos que "troika" ou "crise", mas há outras - são tantas e nos mais variados campos! - que infestam os dias que correm e mesclam entre a cada vez mais espremida língua de Camões a favor da cada vez mais presente língua de Shakespeare. Se recebemos correio electrónico não desejado, não chamamos "publicidade não desejada", mas "spam"; se nos roubam o carro de forma violenta: "carjacking"; se os nossos filhos andam à luta na escola: "bulling"; e se queremos conversar com alguém usando o computador: "chat". Até os temas musicais vistos em televisão e que de repente, assim, de um momento para o outro passaram de "telediscos" para "videoclips"!? Bem!!!??
De facto, quem não se ajusta e adapta aos tempos que correm e à línguagem que agora se vai falando... rapidamente se converte num "primossauro", qualquer coisa anterior à era dos dinossauros e do homem pré-histórico!

Mas de volta às questões relacionadas com este estado de (des)graça em que vivemos e que todos temos ouvido falar sem, talvez, conseguirmos ter uma real percepção do que está e do que pode vir a passar-se, será curioso pensarmos se depois da última vez que estivemos num aperto destes (aí a linguagem era bem mais vulgar e embora se tenha conhecido a presença do FMI, a verdade é que na altura se falava em "vacas" em vez de "troika"; eram os tempos perdidos das "vacas gordas" e os tempos que se viviam de "vacas magras"), de facto aprendemos alguma coisa? Não creio.



Recordo-me de na altura se fazer uma rima que rezava qualquer coisa como "SANTO ANTÓNIO FEZ MILAGRES NA SÉ , AGORA, QUEM QUISER MILAGRES, VAI À CEE!", e é mesmo aí onde pretendo chegar pois para aportarmos no estado actual em que nos encontramos, na verdade foi porque nunca antes a situação foi resolvida. O que aconteceu foi que se entrou na Comunidade, vieram dinheiros por aí abaixo que permitiram "lavar a cara" e que se vivesse à conta desse crédito - servindo alguns mais do que outros e outros ainda em proveito próprio, claro! - e que agora está a ser tudo cobrado e com juros! Mudou, efectivamente, alguma coisa entre a crise de então e a actual se exceptuarmos que então se negociava em escudos e agora é em euros? Não! Nada! Andamos todos de tanga outra vez!

E agora? Qual vai ser o "milagre" desta vez?
Vai a própria Comunidade Europeia (CE) criar uma espécie de Liga dos Países da Comunidade a exemplo da Liga dos Campeões no futebol, que dá milhões caídos aos pontapés?
Vamos ter uma nova CE para podermos sair deste buraco em que estamos?
Vamos poder receber mais dinheiros para fazer estradas que numa primeira fase serão sem custos apenas e só para tapar os olhos e fazer esquecer o inconveniente que todos vivemos com as obras, para que depois, na primeira oportunidade e quando visíveis as melhorias para o dia-a-dia das pessoas, possam ser imputadas portagens com sistemas ainda mais caros, menos funcionais e que tão pouco contribuem para criar postos de trabalho?
Ou será que vamos mesmo acabar marginalizados e esquecidos, sem dinheiro e sem orgulho à conta de uns tantos que em vez de governar o país apenas se governaram pelo país?

Nesses outros tempos em que a linguagem era comum e também era NOSSA, quando estávamos sujeitos ao que agora se chama de "rating" seria porque os vizinhos, o senhor do banco, o senhor da mercearia, o vendedor do automóvel com quem se negociara, teriam uma opinião formulada sobre a nossa capacidade e vontade de virmos a cumprir de forma atempada e na integra com as nossas responsabilidades. E todos nos entendíamos. Agora, com a linguagem que nos é imposta, para podermos fazer seja o que for, temos de assinar um contrato, assumir um sem número de penalizações por eventual incumprimento desse contrato, saber inglês e dominar perfeitamente a linguagem financeira! Veja-se o exemplo: "Standard & Poor's" é nada mais, nada menos do que uma empresa de notação financeira que publica análises e pesquisas sobre bolsas de valores e títulos. No entanto, quando traduzida à letra, temos "padrão" e "pobres"... Quer isto dizer mais qualquer coisa quando lido entrelinhas?!?...

Ironia à parte eis que o problema inicial persiste: como, afinal, se pode sair desta crise em que estamos todos mergulhados? Não deve haver uma nova Comunidade Europeia, e uma eventual Reunião dos Países Latinos talvez nem seja rentável, não há grande esperança na classe política para que de repente venhamos a ter alguém que realmente governe, não há formas nem fórmulas mágicas, já enchemos o país com alcatrão e até fizemos autoestradas alternativas para ter "à mão" e todas elas cobráveis... portanto, talvez, seja chegada a hora de se investir no Ensino. Falo do Ensino a sério e de qualidade, não desse que aí anda com o propósito único de se poder afirmar que temos um bom índice de escolaridade quando na verdade se concluem cursos superiores a acreditar que a palavra "bué" sempre existiu em português ou que o arquipélago dos Açores é uma uma ilha...
Aparentemente já não há muito que possa ser feito sobre quem já deixou o Ensino, mas há imenso que pode ainda ser feito no campo da Formação se se tratar de uma Formação profissional direccionada e efectivamente útil quando transportada para o mercado de emprego.

Empregos esses que devem permitir "renovar-se" em vez de "arrastar-se". Não consigo perceber esta tendência para se alargar (adiar?) o prazo da reforma se a "dependência" é a mesma: os mais novos não têm colocação porque os lugares estão ocupados pelos mais velhos, mas também vivem de subsídios e de rendimentos e de precariedade... Serve de alguma coisa uns trabalharem até à exaustão quando outros, frescos e cheios de energia, acumulam horas sem fazer nada?

Que mensagem é esta, afinal, onde se educa um filho por via da formação académica para que venha a ser transformado num "desalojado social"? Sim, porque se antes do curso ninguém os emprega porque lhes falta a licenciatura, depois desse desiderato, ali a roçar os 30 anos, ninguém lhes dá emprego porque não têm qualquer experiência, alguns casos - já de si dramáticos - chegam aos 40 e também não há quem lhes dê emprego nessa altura porque... já vão tendo alguma idade e, claro, quando chegam à idade em que já não dá mais para trabalhar e querem pedir a reforma... o que podem obter se nunca trabalharam?

Este é o actual estado das coisas e é para este sistema que todos nós andamos a pagar neste país falido e f#?+$* por meia cambada de bandidos que se dizem "os" doutores e engenheiros governantes!

"O mundo é um lugar fantástico e merece que lutemos por ele" (Hemingway), e Portugal também!
 

1 comentário: