terça-feira, 14 de janeiro de 2014

ROBERTO CARLOS - O REI DOS REIS


"[O Rei] (...) confunde as histórias dele com as histórias de todos nós... (...)"
Existe uma estranha tendência para se aprovarem as escolhas de cada um no que a gostos musicais (e não só) diz respeito. Mais impressionante ainda acaba por ser a ideia de chacota e os risos de estupidez que se juntam quando se assume algo "menos comum". Se dizemos que gostamos de determinado filme, actor, música ou cantor, o mais sensato é assegurarmo-nos de que estamos de acordo com a generalidade dos gostos, caso contrário... é-se vítima de comentários que tendem a inibir ou a tentar evergonhar os mais sensíveis.

Não é o meu caso. Nunca fui muito dado a seguir em rebanho e a fazer ou a gostar do que anima as maiorias. Lembro-me de todos pedirem cerveja ou vinho e eu beber coca-cola, de todos quererem fumar e eu dizer que era desportista. De todos ouvirem rock e eu gostar de música mais calma.


Por isso mesmo hoje (não só para que se dissipem quaisquer nuvens de incerteza, mas, e acima de tudo, pelo prazer que isso me dá), quero prestar a minha homenagem ao Homem que me sempre me inspirou e ajudou a crescer. O Homem que me ensinou a ser mais generoso, que me ensinou a amar e me fez entender tantas questões relacionadas com... o amor.

"E não há nada para comparar"
É um Homem a quem todos, até os que dizem não gostar dele como artista (como é possível?!?! - também tenho esse direito, não?!!- ), mas todos - dizia - carinhosamente chamam de Rei. O Rei!

O título assenta perfeitamente porque ele não foi coroado (apenas) pelas canções que nos tocam a alma, mas sim pela imensa Humanidade que mantém sempre presente em cada tema, em cada oração, em cada sorriso franco. É um Homem que por via das canções conseguiu revelar a homens e a mulheres a grandeza e a dor de se ser humano. Um Homem que ao cantar confunde as histórias dele com as histórias de todos nós.

Não tenho qualquer pejo em admitir quão emocionado fico quando ouço temas mais antigos que despertam em mim lembranças e emoções da minha infância e - fazendo minhas as palavras dele - como "a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez"...!

Quando penso na origem desta vassalagem e "das lembranças que trago na vida", a que mais me fica é a de a minha Mãe ouvir e repetir vezes sem conta os álbuns do Rei e isso, que na altura eu teria de gostar ou de... gostar!, sem saber, educou-me.

Roberto Carlos ensinou-me o que é a amizade verdadeira; ele mesmo se refere a Erasmo Carlos, o grande Amigo e Compositor de tantos sucessos, como o irmão que ele escolheu em adulto e é conhecida a relação que dura desde 1958 (o Rei tinha 17 anos). Roberto Carlos ensinou-me a interpretar melhor as questões da Fé e no respeito que devemos saber mostrar pelas diferenças que podem surgir numa simples... oração. Com o Rei aprendi a ler - e a curar! - as feridas do coração. Com ele também aprendi que o amor é sempre amor, mas que quase nunca é para sempre. Palavras como "esperança" e "ternura", foi através dele, das canções dele, que aprendi a interpretar...

Tudo o que o Rei canta é extremamente rico em "Detalhes" e parece sempre ser dito de uma forma sincera. Ele canta a vida dele. As mágoas e as alegrias e essa mensagem, por ser tão... carnal, tão real e tão... próxima, toca a quem escuta com o coração.

Tive oportunidade de ir assistir a um concerto dele no Pavilhão Atlântico.
Levei a minha Mãe comigo sem revelar onde íamos. Queria que fosse supresa!
Sei que houve "fugas" de informação e creio que ela sabia, mas não deixei de saborear aquele momento: a minha Mãe e Roberto Carlos, os dois "culpados" pela pessoa que sou, ali, no mesmo espaço!

"(...) esse cara sou eu."
Ao longo do espectáculo - que reuniu homens, mulheres, jovens e crianças - mais do que um confronto de gerações, o que vi foi a passagem de testemunhos, de pais para filhos.

Dei por mim a imaginar quantas daquelas pessoas se apaixonaram e constituiram família ao som de Roberto Carlos. Quantas daquelas pessoas já teriam perdido os companheiros e companheiras de uma vida e talvez por isso chorassem em certos temas, "ao lembrar o passado". Como eu, de resto, que às vezes sou apanhado de surpresa e sinto uma ou várias lágrimas a encherem as órbitas dos meus olhos desesperadas por rolar pela face, porque uma qualquer canção me recorda, também, o passado...?

Curiosamente, ao contrário do que pensam ou pensaram algumas companheiras que tive, O Rei não me lembra as namoradas que tive, mas a minha vida, apenas. O Rei não pode ser dedicado a ninguém em particular, apenas partilhado. E se há alguém que acredita exactamente nisto "esse cara sou eu!".

Roberto Carlos tem 72 anos. É imortal. Ainda assim sei que um dia vai recolher-se para poder descansar... Vai custar muito para todos nós que um dia ouvimos o grito dele que queria "ter um milhão de amigos" - e na verdade nos reproduzimos e hoje somos... muitos, muitos mais do que esse milhão - perdermos este amigo especial como é o Roberto.

Obrigado Mãe, por me teres obrigado a ouvir Roberto Carlos.
Obrigado Rei, por me teres tocado no coração.

A mim, sem dúvida, me compete (também) passar estes princípios à minha filha (ou filhos se houver mais) e lembrar sempre que ele, O Rei, existe.


Gesto comum em todos os espectáculos:
O Rei brinda as fãs com uma rosa
Gosto de pensar que também ele, com o legado que já nos deixou, pode ser visto como uma inspiração, e que nas canções dele podemos encontrar conforto, por isso, bem a propósito do que ele canta, em jeito de homenagem e em jeito de oração, nunca é demais lembrar que...

"(...) Às vezes em certos momentos dificeis da vida
em que precisamos de alguém para ajudar na saída
a sua palavra de força de fé e de carinho
me dá a certeza de que eu nunca estive sozinho (...).
(...) Você é o amigo mais certo nas horas incertas (...)".


O escritor (e político) francês André Malraux disse um dia: "o homem é aquilo que ele próprio faz" e Roberto Carlos, mais e melhor do que ninguém, encontrou nas canções "formas simples para falar de amor" fazendo dele uma pessoa que vale sempre a pena recordar como O Rei dessa arte.

"E não há nada para comparar; nem mesmo o céu, nem mesmo as estrelas, nem mesmo o mar e nem o infinito (...)".


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