APTOS PARA CÃES SAUDÁVEIS, APENAS
Masai à esquerda, Yiuri no centro e Niki à direita - Manteigas, Dezembro 2001 |
Se efectivamente eu quisesse apenas
escrever um anúncio “castrador” desta espécie de curandeiros dos nossos animais domésticos em quem depositamos
(sempre) tantas esperanças e tanta confiança, talvez me bastasse apenas a
parangona que destaquei acima. Mas não basta.
Aliás, destacar apenas o óbvio sem
aprofundar e sem justificar os meus argumentos, pode até parecer ingrato se
atendermos que parte desses (bons) anos de convivência com os nossos
amigos de quatro patas, são também partilhados com os veterinários a quem (influenciados pela
simpatia, pelo afecto e ainda pela “atenção” dos postais que enviam em nome
próprio do nosso amigo-animal a recordar a data das vacinas ou da
desparasitação) em regra, entregamos e depositamos toda a confiança e profissionalismo.
Infelizmente (e essa é a verdade), infelizmente - dizia, todos
esses anos de profissionalismo venerado apenas se aplicam à juventude e aos
anos saudáveis dos nossos meninos. Vacinar e desparasitar é de facto tudo em
que são verdadeiramente bons. E digo-o com profunda tristeza…
Com a tristeza de quem (mais infelizmente ainda)
já viveu o virar de página e acompanhou a velhice e o posterior desaparecimento
de um filho-cão.
Açores - Dezembro 1999, Yiuri com 2,5 anos |
Com a tristeza de quem assistiu ao
adoecer, mingar e morrer em três tempos, outros amiguinhos que sendo mais
próximos ou menos próximos, sofriam apenas
de velhice e que assim que se recorreu aos médicos veterinários exigindo
mais competência, maior empenho (e mais respeito!) do médico veterinário… nada
se viu... além das chorudas facturas de tratamentos, afinal, infrutíferos.
O Yiuri quando morreu tinha 13 anos, 6 meses e 1 dia.
Aos sete meses foi atropelado e o
médico veterinário a quem se recorreu no momento (antes de iniciarmos uma
viagem de 150 km para chegar a um Hospital Veterinário onde realmente foi
tratado com todos os cuidados e grande profissionalismo), habituado apenas a
lidar com gado e cavalos, anunciou de imediato que nada haveria a fazer; que
ele morreria nessa noite.
Esteve nos cuidados intensivos e com um diagnóstico
muito reservado. Quando veio para casa teve de ser garantido muito amor, muita
atenção e alguns cuidados médicos. Foi tudo o que recebeu.
Antes de finalmente partir (e sem
grandes delongas preferindo deixar para um outro tema onde vou poder contar
sobre as duas vezes em que morreu a avó do veterinário, a orfandade em relação
a um médico veterinário por ter sido quebrada a confiança que eu procurava, os
diz-que-tem e os afinal-não-tem que na verdade redundam em negligência sem
quaisquer consequências para os autores) o Yiuri de facto estava muito doente com problemas
hepáticos e que levavam à falência renal para além de um tumor cerebral que
levava à descoordenação motora.
Esteve internado. Esteve a soro. Comia por uma
seringa.
Ao fim de 2 dias de internamento o chefe da equipa veterinária – a quem
nada aponto em termos profissionais senão competência – sugeriu que o “adormecêssemos”, outra via
de negócio…
Não aceitei.
Ao quinto dia o Yiuri voltou para casa.
Contratei uma pessoa amiga para cuidar
dele enquanto eu não estivesse em casa; alguém que lhe dava a medicação a
horas, que o ajudava a comer, que o ajudava a levantar-se, que lhe mudava a
cama quando ele já não aguentava e os rins funcionavam…
O veterinário ia a minha casa de-quando-em-quando
e reconheceu que se tratava de um “milagre” aquela força do amor que ainda o
mantinha vivo.
Esteve connosco mais um mês e qualquer
coisa...
Masai a caminhar à esquerda da Niki, 1,5 meses |
O meu Yiuri estava velhinho. Teve uma vida plena.
Viveu para lá da esperança média de
vida para a raça, mas ainda hoje não me convenço de que poderia ter vivido mais
uns anos se tivesse sido clinicamente bem tratado depois de sénior.
A Masai.
Filha do Yiuri.
Da primeira ninhada.
Houve duas.
Encerrou recentemente (passado dia 6 de Abril) a linhagem de
descendência do meu-menino. Era minha neta.
Tinha 12 anos, 10 meses e 5 dias.
O melhor amigo dela, um dos donos que a
criou e acompanhou desde os 6 meses, estava preocupado com ela; não estava a
comer há uns dias, bebia pouca água, não mostrava a mesma energia nem a
vivacidade de sempre. Levou-a ao veterinário.
Esteve a soro na primeira noite.
Anunciaram
tratar-se de uma anemia.
No segundo dia optaram por uma
transfusão de sangue.
Devolveram esperança quanto à
recuperação.
Ao terceiro dia fizeram a conversa do
sofrimento… e do egoísmo.
Foi “adormecida”.
Aos meus olhos a Masai tinha de facto um
problema: estava velhinha…
Aos olhos de quem tem um negócio que
tem de ser renovado e mantido… estava a sofrer, apenas.
Aos meus olhos, com os meios que
existem e com mais dedicação e empenho, ela podia ser tratada.
Aos olhos de quem recebe apenas mais um
cão, que não é o deles, estava condenada. Era velha!
No coração de quem está a suportar e contém
toda uma dor angustiante que se esgrime entre a coragem de tomar uma decisão e o “egoísmo” aos olhos de quem
prefere o lucro, a decisão mais acertada parece sempre a socialmente mais óbvia…
Tal como é notável o padrão de
semelhança entre o amor e a loucura, também aqui, é incrível o padrão de
semelhança entre paixão e lucro...
No paraíso dos cães, espero que corram de novo um com o outro... |
Uma senhora
para os donos.
Num dia estava bem.
No outro e sem contacto com outros animais que não os de casa, estava com uma qualquer espécie rara de sarna. E… no outro... morria por tratamento com medicamentosa errada devidamente orientada pelos veterinários…
No outro e sem contacto com outros animais que não os de casa, estava com uma qualquer espécie rara de sarna. E… no outro... morria por tratamento com medicamentosa errada devidamente orientada pelos veterinários…
Eu costumava assumir que havia
apenas dois profissionais que não trocava: o barbeiro e o veterinário.
Nunca tive qualquer intenção de acusar e de processar o barbeiro por negligência e o pior que poderia acontecer se este fosse descuidado seria ter paciência e esperar que o cabelo voltasse a crescer.
Não posso dizer o mesmo sobre a grosseira incúria dos médicos veterinários. Nem enumerar as consequências…
Nunca tive qualquer intenção de acusar e de processar o barbeiro por negligência e o pior que poderia acontecer se este fosse descuidado seria ter paciência e esperar que o cabelo voltasse a crescer.
Não posso dizer o mesmo sobre a grosseira incúria dos médicos veterinários. Nem enumerar as consequências…
As histórias felizes – porque há
algumas envolvendo médicos dos animais mesmo que sejam sempre dos outros e nunca as nossas!! – repare-se, raramente envolvem um cão com mais de 10 anos.
Porque será?!?...
Pela Masai.
Pela Isa. Pela Laika. Pela Cuquinha. Pela Luna. Pelo Yiuri. |
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