segunda-feira, 21 de abril de 2014

MÉDICOS VETERINÁRIOS


APTOS PARA CÃES SAUDÁVEIS, APENAS
Masai à esquerda, Yiuri no centro e Niki à direita - Manteigas, Dezembro 2001

Se efectivamente eu quisesse apenas escrever um anúncio “castrador” desta espécie de curandeiros dos nossos animais domésticos em quem depositamos (sempre) tantas esperanças e tanta confiança, talvez me bastasse apenas a parangona que destaquei acima. Mas não basta.

Aliás, destacar apenas o óbvio sem aprofundar e sem justificar os meus argumentos, pode até parecer ingrato se atendermos que parte  desses (bons) anos de convivência com os nossos amigos de quatro patas, são também partilhados com os veterinários a quem (influenciados pela simpatia, pelo afecto e ainda pela “atenção” dos postais que enviam em nome próprio do nosso amigo-animal a recordar a data das vacinas ou da desparasitação) em regra, entregamos e depositamos toda a confiança e profissionalismo.

Infelizmente (e essa é a verdade), infelizmente - dizia, todos esses anos de profissionalismo venerado apenas se aplicam à juventude e aos anos saudáveis dos nossos meninos. Vacinar e desparasitar é de facto tudo em que são verdadeiramente bons. E digo-o com profunda tristeza…

Com a tristeza de quem (mais infelizmente ainda) já viveu o virar de página e acompanhou a velhice e o posterior desaparecimento de um filho-cão.

Açores - Dezembro 1999, Yiuri com 2,5 anos
Com a tristeza de quem assistiu ao adoecer, mingar e morrer em três tempos, outros amiguinhos que sendo mais próximos ou menos próximos, sofriam apenas de velhice e que assim que se recorreu aos médicos veterinários exigindo mais competência, maior empenho (e mais respeito!) do médico veterinário… nada se viu... além das chorudas facturas de tratamentos, afinal, infrutíferos.

O Yiuri quando morreu tinha 13 anos, 6 meses e 1 dia.
Aos sete meses foi atropelado e o médico veterinário a quem se recorreu no momento (antes de iniciarmos uma viagem de 150 km para chegar a um Hospital Veterinário onde realmente foi tratado com todos os cuidados e grande profissionalismo), habituado apenas a lidar com gado e cavalos, anunciou de imediato que nada haveria a fazer; que ele morreria nessa noite. 
Esteve nos cuidados intensivos e com um diagnóstico muito reservado. Quando veio para casa teve de ser garantido muito amor, muita atenção e alguns cuidados médicos. Foi tudo o que recebeu.

Antes de finalmente partir (e sem grandes delongas preferindo deixar para um outro tema onde vou poder contar sobre as duas vezes em que morreu a avó do veterinário, a orfandade em relação a um médico veterinário por ter sido quebrada a confiança que eu procurava, os diz-que-tem e os afinal-não-tem que na verdade redundam em negligência sem quaisquer consequências para os autores) o Yiuri de facto estava muito doente com problemas hepáticos e que levavam à falência renal para além de um tumor cerebral que levava à descoordenação motora. 
Esteve internado. Esteve a soro. Comia por uma seringa. 
Ao fim de 2 dias de internamento o chefe da equipa veterinária – a quem nada aponto em termos profissionais senão competência – sugeriu que o “adormecêssemos”, outra via de negócio…

Não aceitei. 

Ao quinto dia o Yiuri voltou para casa.
Contratei uma pessoa amiga para cuidar dele enquanto eu não estivesse em casa; alguém que lhe dava a medicação a horas, que o ajudava a comer, que o ajudava a levantar-se, que lhe mudava a cama quando ele já não aguentava e os rins funcionavam…
O veterinário ia a minha casa de-quando-em-quando e reconheceu que se tratava de um “milagre” aquela força do amor que ainda o mantinha vivo.

Esteve connosco mais um mês e qualquer coisa...

Masai a caminhar à esquerda da Niki, 1,5 meses
Preparou-me para o pior – que nunca fui capaz de aceitar – e partiu num sábado, depois de olhar para mim uma última vez… e suspirar um adeus.

O meu Yiuri estava velhinho. Teve uma vida plena.
Viveu para lá da esperança média de vida para a raça, mas ainda hoje não me convenço de que poderia ter vivido mais uns anos se tivesse sido clinicamente bem tratado depois de sénior.

A Masai.
Filha do Yiuri. 
Da primeira ninhada. Houve duas.

Encerrou recentemente (passado dia 6 de Abril) a linhagem de descendência do meu-menino. Era minha neta
Tinha 12 anos, 10 meses e 5 dias.

O melhor amigo dela, um dos donos que a criou e acompanhou desde os 6 meses, estava preocupado com ela; não estava a comer há uns dias, bebia pouca água, não mostrava a mesma energia nem a vivacidade de sempre. Levou-a ao veterinário.

Esteve a soro na primeira noite. 
Anunciaram tratar-se de uma anemia.

No segundo dia optaram por uma transfusão de sangue.
Devolveram esperança quanto à recuperação.

Ao terceiro dia fizeram a conversa do sofrimento… e do egoísmo.
Foi “adormecida”.

Aos meus olhos a Masai tinha de facto um problema: estava velhinha…
Aos olhos de quem tem um negócio que tem de ser renovado e mantido… estava a sofrer, apenas.
Aos meus olhos, com os meios que existem e com mais dedicação e empenho, ela podia ser tratada.
Aos olhos de quem recebe apenas mais um cão, que não é o deles, estava condenada. Era velha!

No coração de quem está a suportar e contém toda uma dor angustiante que se esgrime entre a coragem de tomar uma decisão e o “egoísmo” aos olhos de quem prefere o lucro, a decisão mais acertada parece sempre a socialmente mais óbvia…

Tal como é notável o padrão de semelhança entre o amor e a loucura, também aqui, é incrível o padrão de semelhança entre paixão e lucro...

No paraíso dos cães, espero que corram de novo um com o outro...
A Isa. Uma labradora que tive a oportunidade e o privilégio de conhecer. Tinha 13 anos.
Uma senhora para os donos.
Num dia estava bem. 
No outro e sem contacto com outros animais que não os de casa, estava com uma qualquer espécie rara de sarna. E… no outro... morria por tratamento com medicamentosa errada devidamente orientada pelos veterinários…

Eu costumava assumir que havia apenas dois profissionais que não trocava: o barbeiro e o veterinário. 

Nunca tive qualquer intenção de acusar e de processar o barbeiro por negligência e o pior que poderia acontecer se este fosse descuidado seria ter paciência e esperar que o cabelo voltasse a crescer. 

Não posso dizer o mesmo sobre a grosseira incúria dos médicos veterinários. Nem enumerar as consequências…

As histórias felizes – porque há algumas envolvendo médicos dos animais mesmo que sejam sempre dos outros e nunca as nossas!! – repare-se, raramente envolvem um cão com mais de 10 anos. 

Pela Masai.
Pela Isa.
Pela Laika.
Pela Cuquinha.
Pela Luna.
Pelo Yiuri.
Porque será?!?...

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