segunda-feira, 23 de abril de 2012

CLUBITE AGUDA

"... fiéis e sofredores ainda que contrariados..."
Nasci e fui criado no seio de uma família benfiquista, educado segundo a doutrina de Eusébio, a pureza imaculada dos calções sempre brancos de Nené e a segurança e protecção de Manuel Bento. Aceito que a mão divina de Vata, o holocausto dos 7-1 em Alvalade ou a traição de Veloso, qual Judas, com o PSV me tenham feito (a)variar as emoções, mas todo o intervalo que corre desde esses tempos até ao dias presentes em que todo o inferno está entregue a um falso profeta que diz responder por Jesus e a quem se tolera (?!?!) um mascar ordinário da pastilha elástica e um constante atropelo ao bom português, apenas me resta afirmar que cresci, desportivamente falando, e que na verdade não tenho clube por "defeito". Sempre me fez confusão as pessoas não gostarem de um treinador, da maioria dos jogadores ou até dos dirigentes, mas, por clubismo não poderem assumir isso e manterem-se sempre fiéis e sofredores ainda que contrariados (o mesmo se passa com a política e com os partidos: não se gosta do candidato, mas tem de se votar no partido, mesmo sabendo que não vai trazer mudanças boas para o país! É o partido!...). Não é o meu caso! Nunca fui de seguir em manada e opto sempre por trilhar os meus passos!


Robben: um craque à antiga
Depois do que me foi dado e apresentado como sendo natural (ser do Benfica), comecei a ver por mim e percebi que gostava mais do Real Madrid do que do SLB. Na altura, inclusive, a minha explicação era simples: os espanhóis tinham não só um excelente craque, o mítico nº7 El Butragueño, como este era também o único craque com o meu nome próprio, Emílio. À custa de Emílio Buitre, alimentei durante anos a fio a minha paixão clubística pelos blancos e é a contragosto que neste momento não me vejo vibrar nos jogos do Madrid...

Sempre vi este clube como o mais exemplar e onde os jogadores e treinadores sendo todos eles enormes de talento seriam sempre gigantes de humildade e exemplos para todos nós como pessoas e como figuras públicas. Não é o caso actual.

Carlo Anceloti: treinador
Por muito que tente suportar a arrogância do treinador Mourinho, não lhe reconheço as qualidades de carácter, de isenção e de fair play que são exigidas aos grandes condutores de homens.

Por muito que queira aceitar a imaturidade associada à loucura da juventude do pseudo-menino Cristiano Ronaldo, não lhe reconheço qualquer humildade em campo ou influência positiva para os milhões de crianças e jovens que idolatram os craques e sonham em ser (exactamente) como eles.

Por muito que se passe a mão pela cabeça e se devolvam oportunidades dado o aparente arrependimento, não consigo tolerar atitudes de um Pepe que mancha de vergonha o emblema que no passado e para a mesma posição em campo já teve nomes de senhores como Hierro, Solari ou Canavarro e que deixaram um legado que este agora destrói a pontapé - e pisaduras e socos!

Como aclubístico, sou a favor do bom futebol e sou livre de torcer por quem mais me identifico; individualmente gosto de jogadores como o Robben, agora no Bayern Munique, do Llorente, do Gabilondo e do Muniain no Athletic Bilbao, do Seedorf e do Robinho, no Milan, do Messi, do Xavi e do Iniesta no Barcelona, do Kaká ou do Lass Diarra, no Real Madrid, do Fernando, no FC Porto, do Andersson no Manchester United...

Kaká: exemplo de jogador
Em equipa, é um prazer, um regalo para os olhos!, assistir a um jogo do Barcelona ou da selecção de Espanha!

No banco, treinadores como Guardiola (Barcelona), Carlo Anceloti (PSG), Vicent Del Bosque (Espanha), Quique Flores (Al Ahli, EAU), Arséne Wenger (Arsenal), Manuel Cajuda (sem clube) e até a surpresa Ricardo Sá Pinto (Sporting), são alguns desses timoneiros a quem se ouve e observa com respeito por mostrarem saber estar no desporto, aceitando com humildade e desportivismo os desfechos das partidas e sem desviar para outros agentes as falhas e erros que deveriam assumir quando não ganham.

Que é feito dos "gigantes de humildade"?     
Não sofro de clubite aguda precisamente porque prefiro fazer parte dessa minoria de jogadores e de treinadores e de público em geral que sabe estar no desporto e que para tal não precisa de chamar sobre si as atenções com disparates e provocações que apenas revelam uma constante inquietação e uma per si natural imposição social para que possam sentir-se integrados.

Pertenço a essa ténue franja de desportistas que vive as emoções do desporto com a clara certeza de que tudo não passa, afinal, de entretenimento.

Sem comentários:

Enviar um comentário